sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Monólogo de Lee


"Não entendo porque os ônibus tanto me fascinam... Não são apenas as pessoas mudas e ausentes ao meu redor e a indiferença que colide com a minha face mesmo que a janela esteja fechada.
É sempre bom uma janela aberta, através dela posso fingir que vejo o mundo que passa e esqueço a indiferença que sempre bate na minha face... Até o vento que entra forte pela janela, esquecendo que eu estou aqui, dói menos!
Um dia eu canso de olhar para a janela e pergunto pro garoto que senta lá atrás o que ele tanto lê naquele texto.
Os Ônibus são chatos!
Às vezes eu lembro do poema de Carlos Drummond em que tudo passa de vagar: "eta vida besta meu deus!" é o que eu digo junto com ele. Mesmo que nem sempre passe devagar e que os carros nas pistas corram velozmente, não deixa de ser besta. Talvez o lugar em que Carlos Drummond falava fosse muito menos besta que esse.
Os ônibus também são legais!
Quando encontro cadeiras viradas para trás eu sempre digo "Isso é poético", eu acho pelo menos! Eu fico olhando para trás sem saber o que tem pela minha frente... Isso é bem a minha cara, eu vivo me despedindo do passado tentando captar com um último olhar tudo que meu sentido me permite: por onde andei, quem olhei, quem me viu, quem sorriu e tudo que fez parte da minha vida apenas pelo tempo que passei ali, sentado no ônibus.
Um dia eu pensei em escrever um livro sobre uma garota pura que fazia as águas de um mar cinzento brilharem alegremente quando ela passava de ônibus... Isso acontece comigo e com todo mundo que parar pra perceber o efeito que a luz dá na água, mas é mágico mesmo assim. Pensei em escrever isso por algum tempo até que encontrei aquela senhora...
Não entendo se foi o destino brincando com a minha cara, mas acredito que sim. A senhora desconhecida de mais ou menos 60 anos sentou atrás da minha cadeira com uma amiga e resolveu ler um texto que tinha escrito... Era simples, singelo, inteligente e verdadeiro! O primeiro que ela leu falava sobre o sorriso, não lembro exatamente as palavras, mas sorri enquanto ela lia. A amiga dela não pareceu impressionada, mas ela resolveu ler outro, dessa vez sobre um sino. Esse não me impressionou, bem escrito era, mas... ei, peraí, quantas pessoas escrevem sobre sinos? Guardião do Tempo, ela o chamava divertidamente: "engraçado, não acha?".
Ahh, que mulher! Não queria ter o sotaque dela, mas queria saber escrever sobre tudo, até sinos!"
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