sábado, 28 de junho de 2008

Ê, Maioba! O meu batalhão!

Todo o ano a história se repete, centenas de pessoas se reúnem alvoroçadas diante de um palco para assistir um famoso boi oriundo do Passo do Lumiar e com sotaque de matraca. Os bois de matraca que me perdoem, mas falar em matraca é falar em Maioba.

Os turistas ficam inquietos enquanto aguardam ansiosamente pelo tão falado boi. Os que já assistiram alguns bois com sotaque de orquestra, imaginam roupas esplendorosas, dança graciosa e bem ensaiada e a melhor orquestra que já foi utilizada nesta dança popular.

Quando os 6 ônibus que pude contar chegam trazendo os brincantes e músicos, a atmosfera fica muito mais tensa. Uma moça, que vende os CD's e DVD's do grupo, exibe uma camisa em que se lê: "Boi da Maioba, a maior orquestra de percussão do Mundo”.

Todos lutam por seus lugares perto do palco, eu consigo o meu na segunda fileira. Depois de dez minutos de passagem de som, pontuados pelos comentários de um integrante do grupo, ouve-se a voz de Chagas, o famoso cantador da Maioba.

Minha prima reclama que o palco é muito pequeno para tantos integrantes e eu aproveito para alertá-la que melhor que ver o Boi da Maioba é ouvi-lo. Meu irmão me corrige: melhor que ver e ouvir Maioba é senti-lo.

Enquanto isso, a música de Chagas comprovava o que meu irmão dizia, quando as matracas entraram na dança, todos, brincantes e espectadores, entraram em sintonia. Era a batida do coração ou eram as batidas dos pés no estrado, não sabia dizer o que aquele som representava, mas achei bom, apesar do calor, me senti engolfada por aquela atmosfera de calor humano e sonoro.

Mesmo que eu não conseguisse escutar o coro, e que o som da percussão fosse muito baixo para as primeiras fileiras (depois pude constatar que atrás estava melhor), considerei o som em si um show a parte.

As roupas ou fantasias deste ano estavam melhores que em anos anteriores: as índias e os caboclos de pena ainda conservavam a maior parte das penas que compunham seus trajes. Além disso, havia mais unidade nos trajes dos brincantes que em anos anteriores. Muitos brincantes estavam visivelmente bêbados, uns bêbados de cachaça, outros de amor. A dança dos "artistas" era mais instintiva que ensaiada, o que deixava o espetáculo um pouco desorganizado.

A coisa só piorou quando apareceram os "turistas", sem mais nem menos subiram no palco e começaram a dançar com os chapéus dos brincantes e a tirar fotos em plena apresentação do grupo. Os dançarinos menos empolgados não pareciam se importar, atrasavam a dança para sair nestas fotos também.

Já os caboclos de pena, não se desconcentravam na sua dança e cumpriam a sua missão de balançar seus grandes e pesados chapéus de pena. Aquela dança rodada era a mais fascinante.

Foi, então, que percebi: as matracas, as zabumbas e os pés batendo no chão naquela animação podiam muito bem resumir o grupo que este ano comemora 111 anos de Maioba. Entendi a paixão que o grupo despertava ao olhar pro céu e ver quanta poeira dançava alegremente lá em cima. O Boi fez tremer o chão e sacudiu a poeira. Observei alguns instantes, mas, em seguida, abaixei a cabeça: cinco ciscos acabavam de entrar nos meus olhos.
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