quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ferida e sem grana em Teresina

Dois dias de vulnerabilidade com a impressão de que muitos se aproveitaram da minha ignorância

Quinta-feira, às 6h da manhã, eu e meu pai já estávamos quase chegando para pegar o ônibus na Cohab, onde vários alunos e amigos esperam para viajar para a capital do Piauí, sede do Intercom Nordeste 2009.

Meu namorado e minha prima passaram muito tempo me pedindo para não viajar. Eles simplesmente achavam que não era necessário eu ir. “Tu tem um monte de exame pra fazer, tu vai atrasar tudo isso?” ele me indagou várias vezes. “Seane, não viaja! As estradas ainda estão todas alagadas”, era o principal argumento da minha prima.

Tudo isso rodava na minha cabeça enquanto os meus amigos se desesperavam ao meu redor. Há um minuto estávamos andando pelas ruas, animados, pensando em para onde iríamos naquela noite. Eu conversava um pouco de lado com Socorro, mas mesmo que tentasse não conseguia lembrar uma palavra. Lembro que enfiei meu pé em um buraco e da pontada que senti, mas mesmo quando o tirei de lá, quase automaticamente, não imaginava nada que ainda estava por vir. Era um corte pequeno, redondo e só sangrava um pouco.

Marçal resolveu me carregar, tive pena dele. Não é todo mundo que agüenta 60 quilos na manha. Quando cheguei à farmácia, tudo piorou. O corte tinha quase o dobro do tamanho que eu imaginava e o sangue já cobria praticamente o meu pé, a sola da minha sandália e ainda pingava no chão.

Eu ria e tremia. Ria do desespero de todos e tremia com medo do acontecido que há menos de dois minutos estava totalmente fora de cogitação. Depois de 5 minutos ou mais, nos quais eu só conseguia olhar pro meu pé e pensar no meu namorado e na minha prima, um moço aconselhou que eu fosse ao Hospital ProntoMed com urgência. Assenti passivamente, nem eu, nem meus amigos tinham outra idéia. Cheguei lá e descobri que aceitavam meu plano de saúde (CVRD). “Mas só cobre a consulta”, advertiu a recepcionista que, mesmo a contragosto, aceitou o meu cartão sem a carteira de identidade que havia ficado na minha mala por engano.

Fui pulando até a sala para ser atendida. Meu pé não sangrava mais depois de um vidro de água oxigenada. O médico não olhou pra minha cara e perguntou se era um corte ou alguma outra coisa, que na minha cabeça significavam exatamente a mesma coisa. Agora eu me segurava pra não cair no choro enquanto contava como havia ferido o meu pé. O médico parecia uma versão piauiense do Dr. House. Em nenhum momento tentou me deixar relaxada e ainda conseguiu aumentar o meu medo de anestesias (para fazer os pontos a anestesia era dentro do corte).

Antes de fazer os pontos, a recepcionista chama o meu amigo e explica que o meu plano não cobriria o procedimento. Para isso eu teria que pagar cerca de 250 reais. Fiquei chocada. Liguei pra minha irmã e ela pareceu tão desnorteada quanto eu. O que eu poderia fazer, afinal? Analisei minhas possibilidades: ia ter que pegar outro táxi para vagar sem destino. Em quantos outros hospitais eu teria que passar? Lembrei dos 200 reais que meu pai tinha depositado para a viagem. Os cinquenta reais que faltariam eu poderia pagar com um dinheiro que tinha economizado para outra ocasião.

Levei cinco pontos, mas ainda tinha que tomar vacina antitetânica, pagar táxi para todos os lugares que eu pretendesse ir, comprar os remédios receitados e, claro, comprar minha comida, tudo isso com aproximadamente 60 reais em mãos.



Felizmente, só teria que sobreviver 2 dias em um alojamento de universitários (que muito me ajudaram), antes de chegar em casa e dormir 13h para compensar o esforço da única perna que havia me “carregado” durante estes dias.


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