sábado, 3 de julho de 2010

Superstições


Sexta-feira, 02 de julho de 2010

Desde que era pequena, e, principalmente quando era pequena, nutro uma forte crença em Deus. Não sei se herança de uma família católica praticante ou se um sentimento nato, mas desde pequena aprendi a acreditar que para Ele tudo era possível.

Em todos os momentos difíceis da minha infância, calava a boca e procurava um momento de silêncio interior para pedir: “Meu Deus, eu sei que isso não é importante, mas seria tão bom se o Brasil ganhasse essa Copa”.

Em 1998, eu com nove anos e com o sentimento de que ainda podia mudar o mundo, assistia a final da copa com o coração na mão e a aflição da espera por um gol brasileiro. Rezei uma, duas, três ou até dez vezes. Até que me convenci de que eu estava dando muito azar para o Brasil e resolvi sair de frente para a TV. Peguei uma bola do meu primo que havia sido esquecida em um canto e me lembrei de como era possível mudar as coisas: ora, era acreditando.

Encarei aquela bola e mirei um canto na parede: o meu gol. Posicionei me preparei, respirei fundo e mais uma vez pedi para Deus, para mim mesma e para a Seleção Brasileira. “Se eu acertar essa bola, o Brasil vai fazer um gol”, tentei me convencer. Concentrei-me na bola de leite barata e ensaiei de me posicionar como os grandes jogadores em momentos decisivos. Chutei!

E nenhum barulho veio da TV.

Repeti o ritual uma, duas, três, mil vezes até o apito soar e eu achar que não teria como conviver com um aperto tão grande no peito. Eu falhara.

Doze anos depois, vi o sonho de um hexa escapar da defesa brasileira. Um gol da Holanda. E mais um gol da Holanda. Desliguei a TV achando que estava dando azar para o Brasil. Saí atordoada sem saber o que fazer. Deitei na cama e fiquei tentando não acreditar e não me preocupar. A qualquer momento o Brasil iria mudar o placar. A qualquer momento...

Dormi. Sem rezar, sem tentar fazer o meu gol pelo Brasil... Não era mais a menininha da qual acho graça hoje. Mas o sentimento de derrota era o mesmo.

6 comentários:

Leo disse...

eu tb pensava mto assim, principalmente qdo o flamengo conseguia entrar numa libertadores, mas ae fui percebendo que é perda de tempo, vale mais a pena gastar nossa crença pra coisas realmente alcançáveis no âmbito pessoal, pq dentro de campo, só depende daqueles 11 que ganham milhões pra jogar bola

M. A. Cartágenes disse...

Sinceramente, uma das coisas mais fofas que já li.

Rá! Cuide-se ^^.

Carolina disse...

Eu tinha essas supertições também, até mais estranhas xD

Em 98, eu só tinha na mente o Baggio jogando a bola pra fora e o Brasil sendo campeão. Foi uma grande decepção. Em 2006, foi triste pq, até então eu nunca tinha visto o Brasil fora de uma final. Em 2010, eu encarei um pagode sem sal e uma Ice quente no fim do jogo =T

Arthur disse...

como diz a sabedoria da internet: rezar é a melhor maneira de não fazer nada e não se sentir mal com isso!

Unknown disse...

esses nossos desejos e angustias sao saudaveis nao? a gente sai um pouco da rotina e da nossa realidade...
acho que por isso a copa desperta essa coisa meio mágica dentro dos torcedores (digo torcedor pq nem todos torcem)

mas enfim... o sonho acabou por agora.

e os chás, funcionaram?

Camila Chaves disse...

teus textos quando terminam, sempre me deixam com uma sensação de completude, de história perfeitamente encerrada, de assunto acabado, sabe como? mesmo assim, fico cá pensando e repensando para ver se lembro de uma história ou outra. e sempre acabo lembrando.

desta vez devo dizer que a lembrança mais marcante que tenho de copa é a de 1994. ganhamos naquela. em meio a uma família bastante católica e igualmente superticiosa, assistir a uma partida da seleção brasileira era um verdadeiro exercício. havia regras:

- era proibido ficar com as pernas cruzadas;
- cruzava-se o dedo se a bola estivesse com o adversário;
- os penalts deveriam ser assistidos em uma corrente de mãos dadas que deveria envolver toda família em torno da tv.

e era muito boa aquela sensação.

por fim, me deu uma tristezinha imaginar a seane menina de 1998 e a seane também menina de 2010, triste porque o brasil havia perdido a copa. se eu pudesse voltar atrás eu pediria, só para que ficasses feliz.

(embora eu não ache que seja certo pedir a Deus que ele traga vitória em jogos ou coisas assim. eu pediria de outro jeito, aí até acho que poderia dar certo. é que eu penso que Ele é bem esperto)

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