terça-feira, 10 de setembro de 2013

O amor é meu lugar

Talvez você tenha estranhado o título dessa postagem. Talvez você simplesmente não tenha entendido e começou a ler apenas para se certificar de que é mais um texto dramático por mim. Não, este não é um texto literário e não pretende ser ficção (ainda que nada não possa não o ser).

Há algum tempo, a questão das distâncias e das alterações das noções de espaço me fez iniciar algumas reflexões. Nada importante ou profundo, aviso. Na época, eu me perguntava sobre uma suposta necessidade de pulverizar ou negar espaços físicos que antes estavam fixados por relacionamentos pessoais. Eu explico. Sabe aquele garoto por quem você foi apaixonada que te levou para comer um doce em um restaurante japonês específico? Ou aquela lanchonete que você e seu ex-namorado frequentavam?

Naquela ocasião, a única coisa que consegui pensar a partir dessas perguntas era que, apesar de parecerem muito instáveis, os nossos relacionamentos pessoais (não necessariamente amorosos) conseguiam nos fixar e nos dar muito mais certezas que lugares físicos estáveis. Como? Produzindo sentido.

Hoje, pensando sobre um conceito de não-lugar, que, para Augé, seria o padrão desse nosso espaço redefinido, descobri que o amor é um lugar. Sem querer me estender sobre um conceito teórico, vamos apenas pensar o não-lugar como o lugar da circulação. É o aeroporto, as vias, o ônibus, o caixa de autoatendimento, etc. O não-lugar é o espaço onde você não é o que é, não existe identidade no movimento. Você se identifica apenas para embarcar. Na circulação, não se estabelece história.

A questão é: o não-lugar não se restringe àqueles exemplos diretamente relacionados com transporte. O não-lugar é qualquer lugar, dependendo da perspectiva.

E onde entra o amor? Se nós concordarmos que atualmente passamos grande parte da nossa vida transitando (porque essa é a concretude do espaço, afinal) e nos estabelecendo apenas temporariamente em não-lugares, cabe perguntar quais espaços são esses em que escrevemos nossa história e nossa identidade.
O próprio pensador que concebeu o não-lugar adverte que não existe um não-lugar absoluto. Existe algo que sobrevive ao trânsito. E eu gosto de acreditar que é o amor. Que são nossos pais (não apenas pelo parentesco), nossos amigos e nossos relacionamentos amorosos. São eles que estipulam distâncias e tempos. Somente em relação a algo nos identificamos. E essas relações podem ser tão fugazes quanto uma viagem, mas existe algo nelas que nos marcam de outra forma. São essas relações que conseguem transformar o exemplo perfeito do não-lugar, o virtual, em um lugar sólido e familiar.

Talvez isso nos ajude a entender melhor por que o fim ou a ausência de um relacionamento almejado, nos deixe tão desnorteados. Como se apenas passeássemos por espaços, sem conseguirmos nos fixar. Sem termos a impressão de estar construindo algo. Muitas vezes, nos sentindo também incompletos. Às vezes podemos supervalorizar o relacionamento amoroso (principalmente). Acreditar que ele pode completar tudo que acreditamos incompleto é um erro. Mas, sem dúvida, ele é um ponto de contato entre uma individualidade e outra. É um ponto de referência, um espaço e um tempo. Quando em uma vídeo-conferência, dois rostos cansados se encontram para terminar o dia com boa noite’s.

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