segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ainda

Sentiu-se só e de repente teve medo de perdê-lo. Nunca tinha sentido isso. Em relação a ele, pelo menos. Mas um filme de memórias – desses que parecem editados com filtro earlybird – começou a rodar em sua cabeça. Eram lembranças de beijos, pegações, romances e paranoias. No fim de cada cena, ele aparecia aqui e ali. E, quando a imagem era ela apenas sorrindo para o celular, sabia que do outro lado da tela também era ele.

– Quer chá?

Ele enviou em uma mensagem quando já passava das 23h.

Ela riu ao ler enquanto se arrumava apressada para o encontro daquela noite. Hoje não.

– Quer chá?

Ele enviou em uma mensagem quando já passava da meia-noite.

Ela esboçou um sorriso mas se sentia infeliz demais para se deixar seduzir pelo convite. Sairia de casa pela promessa de um amor, mas chá? Hoje não...

O hoje, no entanto, sempre foi relativo. Eles sempre pareciam desencontrados em seus compromissos. E o convite do chá, estranhamente, nunca parecia chegar na hora certa...

Sentiu o coração acelerar na mesma velocidade com que o medo de perdê-lo crescia. Não se perguntava o que seria exatamente isso, perdê-lo, mas sentia que tinha demorado demais. Ele estivera sempre ali. Como a resolução de um problema de matemática que parece insolúvel e da qual só nos damos conta no meio da noite.

Prendeu a respiração enquanto digitava, como se respirar fosse atrasá-la em algo.

– Ainda há chá?

Veio o primeiro marcador. Seguido por uma diferença de um segundo do próximo. Ao lado da foto dele surgiu a palavra online. Finalmente, os marcadores ficaram azuis.



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