sexta-feira, 5 de junho de 2015

E quanto mais estúpido, mais me entupo de amor





Não sei precisar em que momento da minha vida me tornei essa pessoa que cola coisas na parede, mas sei que de janeiro para cá, os cartões postais e os calendários passaram a dividir o espaço branco e texturizado das minhas paredes com uma meia dúzia de post-its. No começo, os post-its eram lembretes de insights que eu tinha durante os estudos ou avisos de algumas tarefas geralmente acadêmicas, mas, em março ou abril, comecei a sentir que precisa de mais. Precisava de inspiração. 

O ruim de precisar de inspiração é que você percebe que, sem ela, também se torna árdua a tarefa de escrever coisas que inspirem. Passei, então, uma tarde enchendo o saco de umas amigas no whatsapp e perguntando que pensamentos as animavam nos dias mais tristes. As respostas foram tão longas, que acabei desistindo e optei por escrever o clichê necessário nos meus pedacinhos de papel. Não sei se foi útil, visto que, uma vez escritos, eu parei de precisar deles e raramente olhava para a parede. Até outro dia, quando o comentário de uma pessoa que nunca tinha estado no meu quarto antes me fez lembrar da existência deles. Ter a experiência de ouvir alguém lendo as suas frases motivacionais é sem dúvida interessante e foi algo que ficou na minha cabeça. 

Entre as frases, eu tinha escolhido escrever “Nobody said it was easy”. Essa não é uma das minhas músicas preferidas, não sou fã da banda, mas, mesmo antes de escrever, me pegava repetindo isso ou cantarolando essa música enquanto lavava a louça. Na mesma época que isso acontecia, eu também estava ouvindo muito uma banda chamada Morphine e eu adorava a canção Scratch, especialmente a parte que dizia “I lost everything I had/ I'm starting over from scratch”. Mas esse era um trecho que eu cantava quando eu queria me lamentar mesmo. Então eu pensava: estou começando tudo do zero, que merda! E pensava isso especialmente em relação aos meus relacionamentos amorosos. 

Mas me lembrar que “ninguém disse que seria fácil” tinha o efeito oposto. Não me deprimia. Me lembrava de que ser fácil não estava no contrato. Então, por que eu deveria nutrir expectativas irreais? Também gostava dessa frase porque servia para tudo: para o amor, para o trabalho, para a academia, etc.

Mas quando outra pessoa a leu em voz alta, ela me deixou bem triste. Pois me fez pensar em como eu estava olhando para os meus relacionamentos. Me fez pensar nas pequenas, porém mais recentes, feridas. Me mostrou como eu achava que tudo estava sendo muito difícil. Sabe, aquilo de encontrar alguém que estivesse na mesma sintonia, no mesmo momento, de peito aperto, de não precisar pensar no que iria dar, de nem perceber que aquela pessoa se tornou uma presença diária, de chegar no momento do relacionamento em que um vira para o outro e fala “Precisamos de uma frigideira nova, essa perdeu o antiaderente”. 

Tudo era muito difícil. E eu estava completamente desanimada só de pensar no que eu teria que passar para chegar nessa fase. E lembrei que tinha falado muito e também escutado dos meus amigos: nunca mais vou encontrar alguém que me ame. Às vezes era ótimo pensar isso, porque tirava uma ansiedade imensa da vida. Mas, na maioria das vezes, estávamos bem desanimados mesmo.

Encontrávamos pessoas fantásticas que nos cativavam, mas algo na equação dava errado – sem entrar no mérito do que é “dar certo” – e, então, elas saíam da nossa vida. Porque queriam coisas muito diferentes; porque não sentiam que era o momento certo; porque alguém não estava tão interessado assim; porque urano estava na casa cinco ou qualquer coisa do tipo. Confesso que muitas vezes me peguei pensando que nunca ia encontrar outro alguém para cantar duetos da Disney comigo, ou para tentar me seduzir dançando, ou para sugerir a mesma posição ao mesmo tempo, ou para dançar funk comigo sem pensar que as pessoas ao redor provavelmente estavam nos julgando muito (mal). Mas enumerar todas as coisas que pensei que nunca mais ia encontrar me fez perceber como as pessoas que passaram pela minha vida, rapidinho ou demoradamente, tinham me proporcionado experiências tão legais que eu adorava relembrar e contar. E em como eu sempre pensava que ter determinada coisa em um relacionamento era importante até alguém novo me mostrar que haviam outras coisas que podiam ser igualmente ou mais importantes.

Essa semana, ao olhar para as frases na parede, senti vontade de trocar. Sai “Nobody said it was easy”, entra “I'm starting over from scratch”. Por que recomeçar algumas coisas do zero, às vezes só torna elas melhores.



Ps.: O título é uma adaptação de uns versos da música Insight do Jaloo que passei o dia ouvindo!

10 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá. Gostei do seu texto. Uma coisa que já percebi a algum tempo, a maioria das pessoas que eu já conheci eram bem parecidas comigo. Tanto que até os assunto e o jeito de se comunicar. O universo parece que nos da aquilo que precisamos. Pena que quase toda vez sempre da errado ou acaba acontecendo nada.

Vou adicionar seu blog nos meus favoritos.

Ps.: Essa música é ruim pra cacete! Como que você consegue passar o dia ouvindo isso? Tô é rindo aqui sozinho dessa aberração.

Ass: Eduardo Rocha

Seane Melo, Secoelho disse...

Oi, Eduardo. Obrigada por querer adicionar o blog nos favoritos, me sinto muito honrada! E gostei muito desse pensamento de que o universo sempre nos dá aquilo que precisamos. Mas acho que não é preciso ver o desfeche como algo que deu errado. Em algum momento já deu certo e trouxe muita coisa boa, não é?

Ps.: Poxa, eu gostei mesmo dela. Ando um pouco apaixonada pelo Pará e pelo sotaque, pela mistura :p

Unknown disse...

Hahahahaha. Falei isso sobre a música na verdade pra te provocar e ver o que tu falarias. Na verdade esse meu pensamento meio "Universal" é mais ou menos assim... As coisas agora não fazem sentido nenhum mas depois de um tempo tu percebe que o quebra cabeça já estava montado pronto pra voltar pra caixa e ser guardado em uma gaveta mas nós complicamos tudo e ele volta a se desmembrar todo de novo e ficar todo embaralhado.

O jogo estava na nossa mão e sequer nos demos conta disso. É como se tivéssemos dois Ases na mão e mesmo assim, com uma probabilidade absurda de vitória em vez de dar um "all in", sempre fica a dúvida e o medo de não arriscar. Um aspecto muito importante é a maturidade que só vem com o tempo e com erros e acertos.

Há algum tempo comecei a perceber certos "padrões" nas pessoas. Coisa meio óbvia mas que só enxerguei agora. As pessoas são tão diferentes umas das outras e elas mudam tanto conforme o tempo passa que as vezes me pergunto se elas enxergam o mesmo azul que eu (tons de cor) ou se quando elas comem algo se o sabor é parecido com o que eu sinto. Existe um "Eu" atrás de cada um de nós e eu não sei qual é a sensação de ser você, suponho que seja parecido com ser eu.

Tu não deve conhecer, mas existe um quadrinho chamado Sandman em que em uma das histórias existe as Bruxas tecelãs. Elas são responsáveis por "Ligar ou conectar" os fios soltos na vida das pessoas. Algo meio parecido com o que se chamaria de "Destino". Procura aí se tu gostar e tiver tempo. É um universo completamente absurdo. As histórias são coisas completamente incríveis. Uma verdadeira lição de vida. Além de ser muito bem desenhado e com ótimos roteiros.

Pow o que houve contigo tu está Depre pra caramba. Vi aqui os teus posts só melancolia...

PS.: Quais bandas tu costuma ouvir?
PS2.: Quais livro vc gosta de ler?
PS3.: Porque toda mulher ou quase toda tem o sonho de casar?
PS4.: Porque SECOELHO? É seu sobrenome?
PS5.: Você trabalha com o quê?

Ass: Eduardo Rocha.

Seane Melo, Secoelho disse...

Bom, estou respondendo do celular e talvez essa resposta fiquei toda meio sem sentindo e desconfigurada. Acho que tu colocou muitas idéias juntas nessa tua linha de raciocínio, com as quais eu concordo, então vou me abster de comentar, rs. Sobre o azul que os outros vêem não ser o mesmo que você vê, isso é um fato. Estamos irremediavelmente aprisionados dentro de nós.

Sobre o Sandman (po, é um quadrinho bem famoso e uma das minhas melhores amiga é viciada), confesso que nunca li, mas tenho alguma curiosidade sim!

Sobre estar deprê, desculpa! Não estou e nem vejo os textos com esses olhos. Mas a escrita, que pra mim às vezes é uma terapia ou um exercício de exacerbar uma sensação até um ponto em que ela desaparece, talvez me faça soar assim.

PS: são muitos PS para um comentário de blog. Acho que podemos conversar sobre algumas dessas coisas em outros canais. Porém, fiquei curiosa com o PS relacionado a todas as mulheres e o sonho de casar. É claro que não! Eu mesma nunca soube se nutro essa vontade. Espero que os meus textos não estejam passando alguma visão tão estereotipada assim, rs ;)

Seane Melo, Secoelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Só respondendo...Na verdade os PS foram só curiosidades mesmo (principalmente sobre casamento). Não fiz nenhuma referência com seus textos só perguntei por perguntar mesmo :p
Tu me dá a impressão de ser uma pessoa meio "artística".
Como vamos conversar agora? Só pelo Blog mesmo?

Ass: Eduardo Rocha

Unknown disse...

Duvido se quando um bebê pula nesse colo tu não fica babando. Já deu pra perceber que eu sou meio louco =D
Desculpa a demora em responder.
Ass: Eduardo Rocha

Seane Melo, Secoelho disse...

Então, acho que somos amigos de facebook, não?

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