sábado, 15 de agosto de 2015

Leituras de Agosto

Esse blog nunca foi tanto o espaço onde eu falava sobre o que estava fazendo. Em geral, ele é um espaço para os meus textos, meus pensamentos. A maior parte exibida na forma de estórias. Mas, ultimamente, tenho sentido esse impulso estranho para publicar, para produzir e compartilhar. Tenho tentado tornar os meus dias cada vez mais produtivos e encontrar uma forma simples e gostosa de crescer de alguma forma. Talvez por isso, ou por uma soma de vários fatores, tenho me voltado muito para a leitura. Comecei a acompanhar o trabalho das meninas do Clube do Livro Erótico, me comprometi a participar do clube do livro da querida Chez Noelle e, de quebra, ainda tenho as leituras pendentes que me laçam olhares enviesados na estante.

Esse mês, então, me desafiei a ler três livros: Eu sou uma lésbica, Suicídios Exemplares e Americanah. Como o mês ainda está na metade, comecei o último livro dessa lista só hoje. Mas quis escrever logo um pouco sobre os outros porque a minha memória não é nada invejável.

Eu sou uma lésbica, de Cassandra Rios

livro cassandra rios
(Leitura do Clube do Livro Erótico)

Uma grande amiga me emprestou esse livro, há mais de um ano, porque sabia que eu tinha muito interesse por literatura erótica. Ela apenas disse que talvez pudesse me interessar e que eu passasse quanto tempo quisesse com o livro. O resultado é que nunca dei muita bola para ele até outra amiga comentar comigo sobre a autora, a Cassandra Rios. Eu nunca tinha ouvido falar dela, nem em cursos e listas de literatura erótica brasileira e, no entanto, ela tinha sido uma das autoras mais vendidas da década de 1970. A obra de Cassandra sofreu muita censura do nosso regime ditatorial e, ainda assim, a autora conseguia vender 300 mil livros por ano. E não eram livros com estórias quaisquer. Cassandra é uma pornógrafa de carteirinha e, pelo que li, muitos de seus livros tinham o lesbianismo como temática central. Que loucura, não é?

Em termos de escrita, achei o livro bem simples. O que não é um defeito necessariamente. Ao mesmo tempo em que não encontramos nenhuma construção espetacular, também não corremos o risco de sentir uma certa vergonha alheia que algumas falas e descrições de atos sexuais podem causar. Em termos de enredo, a história é muito enxuta. É até espantoso que a gente percorra um tempo considerável da vida da protagonista, Flávia, em tão poucas páginas. Mas essa impressão se deve, possivelmente, pelo fato de o desenvolvimento da estória estar muito atrelado à paixão dela pela vizinha, dona Kênia.

Tive umas ressalvas quanto ao desfecho da história. Mas, no geral, achei a leitura muito boa porque encontrei uma personagem lésbica sem traumas ou abusos, no passado, que pudessem sugerir qualquer coisa de recalque ou medo do sexo masculino. Flávia se diz uma lésbica genuína (por mais que isso soe bizarro em algumas comparações dela com outras garotas lésbicas do livro). Além disso, o tempo todo me senti surpreendida por algumas das ideias da personagem, que me mostraram que, aparentemente, eu não tinha nenhuma ideia do que é ser lésbica.

Suicídios Exemplares, de Enrique Vila-Matas


“Para que me exibir (raciocinava Anatol cinicamente) e por que dar os meus textos para impressão, se no que eu escrevo suspeito não haver mais que uma cerimônia íntima e egoísta, uma espécie de interminável e falsificada fofoca sobre mim mesmo, destinada, portanto, a uma utilização estritamente privada?”. Em A Arte de Desaparecer.

Decidi que queria escrever sobre o que estava lendo, principalmente, por conta desta leitura. O livro foi um outro empréstimo e confesso que comecei a lê-lo pela simples vergonha de passar tanto tempo com o livro de um amigo. Se ao menos eu imaginasse!

Acho que, nesse período da vida, estou vivendo mais um momento de provações, incertezas, ansiedade e melancolia (que é uma tristeza leve, segundo o Vila-Matas). Quando peguei o livro para ler não imaginava que o título estivesse REALMENTE relacionado com as estórias dos contos, mas estava enganada. Assim, me peguei, em um dos momentos em que me sentia mais triste, lendo estórias de personagens que, pelos mais diversos motivos, se depararam com a ideia do suicídio. Se você leu o que eu escrevi até aqui imaginando que este livro é muito triste, então acho que é preciso que eu lhe alerte do contrário. Quase todas as histórias beiram ao absurdo (e ao cômico), mas o que me atraiu foi que, mesmo em enredos fantásticos, pude encontrar em cada um dos personagens muitas “verdades” sobre a vida, a rotina, o cansaço, a melancolia, os nossos relacionamentos...


Quis grifar muitas frases. As que eu mais gostei, em sua maioria, me fizeram dar boas risadas pois ao mesmo tempo em que beiravam ao absurdo, ao insólito, eram de uma sinceridade tão crua! Ao ler esse livro, me senti como se finalmente estivesse encontrando um jeito de dividir algumas dores e frustrações. E, se tivesse a chance de conversar com alguns dos personagens dos contos, imagino que poderia me pegar repetindo: sei bem o que é isso, sei bem o que é isso.

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