quarta-feira, 5 de agosto de 2015

No que eu penso quando penso em sexo

Sexo é uma imagem. 

Tentava escrever um conto erótico, mas sempre se impacientava com a ideia daquelas descrições demoradas. Beija boca, beija peito, aperta mamilo, beija boceta, lambe boceta, molha o pau na boca, enfia assim, enfia assado, fala isso, faz aquilo. Não! Não achava que sexo era isso. 

Apesar de muitas vezes ter se flagrado excitada lendo livros eróticos, de todo o tipo de reconhecimento literário _o desejo é um cara que não se liga muito em qualidade literária, sejamos francos_, não achava que conseguia escrever uma aventura erótica naqueles mesmos moldes. O que a impedia era ela... e o leitor. Não o conhecia bem. Não sabia do que ele gostava. Apesar de as danças sexuais nunca parecerem variar tanto, ela tinha receio de detalhar algo que não o excitasse. Mas, para descobrir o que o excitava, tinha duas opções: ou fodia o leitor ou, e esta segunda opção parecia mais promissora, revelava o pensamento que nunca antes expressara...

O de que o sexo é só uma imagem. Não que ele seja sempre igual ou mesmo imóvel, veja bem. Mas o enredo do sexo está só em um detalhe. Em Nabokov, sexo era a marca do elástico do short na barriga de Lolita. Um short com elástico cuja infantilidade gritava aos olhos do leitor. A marca do elástico que a retirada do short revelava. Depois tanto fazia, se olhava, se beijava, se chupava, se cutucava... O erotismo tinha ficado ali, na barriga marcada pelo elástico do short.

Para ela, o sexo em Bataille também estava em uma imagem mental, que não era o olho ou o ovo ou o culhão. Elegia para si a imagem do prato com leite. A personagem sentava no prato e nada mais importava. Quem olhava por baixo ou se filetes de leite lhe escorriam pela perna.

Por isso lhe parecia tão difícil escrever um conto erótico. Não tinha paciência para as preliminares. Para as descrições, para os enredos, para as ações sequenciadas. Tudo podia dar no mesmo _na morte do gozo_ ou em nada. Mas o que importava era a imagem. No começo, no meio ou no fim. Cada trepada se resumia a uma imagem.

Mas para escolher a imagem, voltava para o leitor. Ainda era preciso fodê-lo. Ou imaginá-lo. E, finalmente, masturbar suas palavras. Escolheu para si um leitor lindo, moreno, ator de televisão_qualquer correspondência com a realidade é mero acaso. E a imagem... bom, podia ser uma mecha de cabelos arrancada. O suor escorrendo em profusão. A cama batendo insistentemente na parede. O vizinho na janela. Podia ser o ímã que fazia os corpos se colarem com facilidade. Podiam ser os olhos... 

Mas era a língua. Era a posição da língua dele. Era a forma como ela podia ser vista, entre um gemido ou um arfar, meio esparramada e meio pronta pro ataque. Era ela quem dava o comando. Olhando para a língua, era possível adivinhar o olhar dele e o próximo movimento. Ele se inclinando para mais perto dela. O beijo molhado. E já não se sabia se eram as línguas e as salivas que os molhavam da cabeça aos pés ou se era suor e outros líquidos.

Sentiu-se satisfeita. No papel, as palavras eram fragmentadas, mas, no pensamento, a simples imagem da língua úmida e suculenta_ que adjetivo para uma língua!_, fazia o plano correr em sequência.

Ela era toda suspiros, ele era todo...língua. 



2 comentários:

Camila Chaves disse...

Eita que fazia tempo que eu não vinha aqui. Fui atualizar uma coisa na conta e... Umas linhas que me deixaram curiosa. Cliquei para ler mais (mesmo quando achei que pela hora, eu não podia). Gostei que só. Volto mais.

Carlos disse...

Gosto do movimento que nossa mente faz quando mexemos nesse assunto....sexo. A mente se alia aos sentidos, que se aliam às emoções..Ter desejo é misturar ansiedade e calmaria, o tátil e o profundo... tudo parece combinar perfeitamente quando mergulhamos nesse universo.
Sim, claro, sexo é uma imagem. Mas uma imagem tão forte que, quando estamos com o desejo intenso, podemos tocar e sentir essa imagem... Sentir a pele, o pulsar do sangue nas veias, o calor, o suor.... as marcas do elástico no corpo dela ou dele... Se não temos a foto, a imaginamos com tal intensidade... O sexo nos faz construir imagens densas, cheias, fogosas, pedindo para serem tocadas...
Gostei do jeito que tratou o tema... Por isso estou aqui ousando...

Carlos Franciscato

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