quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O amor se escreve só

Sempre me senti uma narradora solitária dos meus amores. Uma garimpeira de pequenos movimentos, expressões e conversas. Construía sozinha os amores que jurava viver a dois. Pensava os pensamentos pelos dois. Antecipava medos alheios que eu só imaginava. E, desacompanhada, combatia os obstáculos que só eu vislumbrava.

Esses amores são meus textos. São as intrigas que enxerguei e extravasei em palavras. Antigamente, não conseguia perceber com tanta clareza que eram amores que eu amava sozinha e histórias que só eu vivia. Mas, de alguma forma, fui aprendendo. E o problema não era tanto ter uma vivência diferente desses recortes de vida a dois. Mas perceber que, em muitos casos, eu era a única que sentia.

Hoje, eu descobri outras linhas que não as minhas. E me garantiram que eu estava ali. Em poesia. Nós dois em um momento que tento recuperar na minha lembrança (o momento exato do olhar), mas que prefiro viver pela história que ele escreveu.

Escrevo sobre isso porque não sei o que pensar. De repente, percebo que talvez ainda guardasse em mim essa esperança da coincidência das linhas. Mas o que encontrei foi uma existência diferente em outra vida. Fora de mim.

***

olho

um olho percebeu
o susto do outro
que descobriu certa alegria
as andadas
a pobre filosofia
correspondência certa
corou,
no chão
a busca de segurança

o tempo suspenso

mas eis
que mais uma vez
hesita
trai o de dentro
o erro
o verbo,
sempre ele
se une
não serve
mais
– não sou isso
nem aquilo
que você pensa –
meia volta
e se repete a história
desses
desencontros
nossos
de todo dia



terça-feira, 6 de outubro de 2015

A experiência não é irrelevante, eu que sou

Eu tô cansada
De quê?
Da experiência...
 Como assim?
Não sei... Eu olho pra todas as minhas últimas relações e percebo que só mergulhei nelas pela experiência
Hmm... A experiência valida tudo, né? Mas se não for pela experiência pelo que mais?
Não sei... Mas chega uma hora em que dói demais!
O que você tá sentindo?
Me sinto irrelevante... Vivi momentos incríveis com algumas das pessoas que passaram pela minha vida. Sei que nunca fiz nada unicamente para o bem dos outros, não é disso que eu tô falando. Tô falando de me entregar, de querer que tudo seja real...
– Ei, mas isso não é ruim!
Não, é a única forma possível. Pra mim... Mas agora me sinto cansada, exausta. É como se esse tempo todo, eu tivesse fingido ser a prova de bala, mas eu não sou.
Por que cê tá falando tudo isso?
Ah, me peguei pensando no Rafael, e no Pedro e no Fernando. Principalmente no Rafael. Não posso dizer que me doei pra ele. Mas abri a porta da minha casa, deixei que ele fizesse parte dos meus dias... Achei que dali sairia alguma coisa duradoura...
Cê queria namorar?
Isso é que é engraçado! Não, não queria. Eu nunca sei o que eu quero, para ser bem sincera, mas definitivamente eu não queria ser irrelevante. Não queria que as pessoas que passam pela minha vida, que se divertem comigo, que acabam descobrindo minhas falhas, minhas lutas e meus medos, simplesmente fossem embora. Eu tô cansada desses relacionamentos que não deixam nada.
Mas eles deixam a experiência.
É... Mas me pego pensando sobre a necessidade dessas experiências. Elas são vazias, elas não me ensinam nada! Será que preciso colecionar mais algumas dessas? Eu sei que sou nova e ainda não fiz nem metade das coisas que gostaria de ter feito, mas essa lógica da experiência que valida todo e qualquer comportamento imprudente tá me esgotando...
Acho que isso é só carência.
Concordo, é carência. Mas talvez seja algo pior...
Insegurança?
Sim. Sabe, às vezes me pergunto se não estou esperando que os outros me façam sentir especial porque eu mesma não consigo me sentir assim. Mas, em termos de sentir que você importa ou não pros outros, acho que parte muito do outro mesmo e não tem mantra de autoconfiança que compense o fato de ele saber que eu vou embora e permanecer em completo silêncio...
[...]
Eu só queria achar que entrei pra lista das pessoas pra quem as pessoas com quem me relacionei mandam mensagem de Feliz Natal. Que merda!





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