segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Levantar

– Dormiu bem?
– Unhum – João responde com a maior cara de preguiça.
Continuamos deitados fitando o teto.

São 8h da manhã segundo o meu celular. Você disse que ia viajar. Precisava estar na rodoviária até às 12h. Imagino que seu despertador vai tocar a qualquer momento, mas você ainda dorme pesadamente. Posso dizer pelo peso do teu braço que está apoiado em cima de mim. Checo todas as notificações das minhas redes sociais e apago os e-mails publicitários (um dia eu cancelo essas inscrições). 8:30. Ainda ouço seu ronco. Lembro da louça na pia e decido levantar e arrumar tudo para o café da manhã. Lavo a louça, passo o café e verifico que o meu colega de apê já providenciou pão fresquinho e salame. Volto pra cama. Você ainda dorme. Deito ao teu lado e, automaticamente, beijo teu braço. Putz, por que eu fiz isso? Em minha cabeça, recupero imagens antigas em que me vejo beijando o braço do ex. Você se ajeita na cama ainda dormindo para voltar a me abraçar.
– Acorda
– Hmmm
– Vamo tomar café
– Tá cedo
Você desfaz o abraço e me dá as costas na minúscula cama de solteiro que dividimos.
– Acorda, fofinho – digo dando mais um beijo no teu braço (Sério, o que tá acontecendo comigo?)
– Vamu ficar aqui
Eu rio.
– Levanta, vai
Você vira pra mim e me olha contrariado
– Vem cá então
– Não quero
– Não fode, Jurema – você me provoca.
– Pode esquecer o amor de manhã – eu brinco citando a mesma música de uma banda que nós dois gostávamos.
Você já me apertava contra você e se preparava para ficar por cima de mim. Não resisto. Desapareço na cama sob você.

– Quer levantar?
– Ainda não – João responde se aproximando de mim. Dormimos nus e sem tomar banho. Eu não imaginava que estava tão bêbada assim. Não dormimos abraçados. Durante toda a noite, não senti a presença dele. Devo ter me esparramado.
Ele tira a coberta de cima de mim com cuidado e me puxa ainda mais para si. Fico feliz por ele não fazer menção de que quer me comer de frente. Continuamos de ladinho, nos movimentando com preguiça, sem beijos. Ele roça o meu pescoço com a barba e me dá beijos eventualmente, eu apenas acaricio seus cabelos com os braços jogados para trás.

Você estremece em cima de mim. Não consegue conter um gemido ofegante. Te aperto dentro de mim e sorrio do teu desamparo. Espero você sair de cima de mim e começo a me vestir.
– Quer tomar banho?
– Num dá tempo
– Tem certeza?
– Eu tô fedendo? – você me olha alarmado
Penso se devo mencionar a roupa encharcada de suor da noite anterior, a saliva, o lubrificante de camisinha e todo aquele cheiro de sexo e buceta, mas opto por dar de ombros.
– Então vamo tomar café.
– Não gosto muito de café...
Pensando bem, você conseguia ser bem chato.

Continuamos deitamos depois da transa matinal.
– São que horas?
– Dez e pouca – respondo – A gente tem que levantar... – complemento sem nenhuma convicção
– É...
Ninguém se mexe.
Ele gozou sozinho. Penso. Já que nós vamos continuar por aqui, não custa tentar.
– Vem cá – pego a mão dele e coloco na minha buceta.
Ele me masturba até perceber que estou perto de gozar.
– Posso ficar dentro de ti? – No estado em que me encontro, me impaciento um pouco com a pergunta ao mesmo tempo em que acho fofo. Claro! Vem!
A transa morna das duas primeiras vezes muda de figura. Acertamos o encaixe, o ritmo e a coreografia. João goza primeiro e o meu gozo é o último passo da dança. Meu salto nos braços estendidos dele.

– Tenho que ir
– Eu sei, fofinho
Você me abraça e me dá um beijo de despedida antes de sair pela porta. São mais de 10h. Penso com animação que posso continuar meu café da manhã na frente da TV assistindo True Detective.
– Cê tá com uma carinha feliz – meu colega de apê dá as caras
– A noite foi boooooa - prolongo o "o" até me jogar no sofá.
– Vocês vão se ver de novo?
– Não sei – dou de ombros.
Não conversamos sobre nada disso. No entanto, constato que isso não me assusta. Pelo contrário, me sinto livre e segura. Vamos. Vamos sim.

João pede para fumar na janela enquanto eu preparo o café.
– Cê toma?
– Tomo, tomo – ele responde com o jeitão simples e animado dele, repetindo as palavras para me imitar.
Improvisamos um café da manhã com tudo o que tem na geladeira. Digo para ele se virar para fechar o próprio sanduíche e ele assume a tarefa rindo de mim. Meu sanduíche é um desastre.
– Tem café? – Meu colega de apê surge na cozinha.
– Tem, acabei de fazer uma garrafa.
Ele sacode a garrafa. Está vazia.
– Acho que tomei tudo – João avisa constrangido.
– Se quiserem, eu faço mais.
João não parece planejar ir embora. Sento no sofá.
– Quer ver alguma coisa?
– Pode escolher...


Jenny Yu

2 comentários:

Anônimo disse...

Se eu tiver que falar de você, direi que você tem talento menina Seane. haha

secoelho disse...

Obrigada!

Confesso que até deixei de ser tão relapsa e passei a voltar ao blog para checar os comentários só para ver o que você estava achando. Está dando pra acompanhar?

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