terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O fantasma

Parece que eu ganhei seu unfollow, não é?

Me surpreendo quando leio a sua mensagem e encaro o celular incrédula por alguns minutos. Por que ele se importa? Pensava em como reagir e me surpreendia comigo mesma por ainda não ter essa resposta mesmo sabendo que havia desejado que você reparasse na minha ausência entre as suas centenas de seguidores.

Havia uma resposta simples. Porque você tinha parado de curtir minhas fotos e postagens. Porque ignorava minhas interações. Porque você me lembrava do quanto eu me sentia rejeitada a cada momento em que alguma coisa tua aparecia na minha timeline

Meus amigos disseram para te excluir logo que você sumiu. Mas eu tinha medo de confessar que me importava. Ou de que não sabia encarar uma rejeição. Mesmo que nunca tenha aprendido mesmo. Talvez eu devesse ter procurado essa terapia nessa época, sabe, mas eu me consolava repetindo o mantra de que talvez o problema não fosse meu. Quem poderia superar algo sem saber o que, de fato, era necessário superar?

Eu não podia me consolar com mensagens de "nunca mais faço isso ou aquilo" porque era muito difícil saber onde eu tinha errado. Era difícil até mesmo saber se houve algum erro, porra! Às vezes eu tenho a impressão de que cometi um erro atrás do outro quando parei de te entender. Como é que você entra assim na minha vida, fofinho, só para decidir sair?



Você vem me ver essa semana?  decido enviar uma mensagem para o João depois de duas semanas sem nos vermos.
Renata,  ele começa a mensagem me chamando pelo nome não posso, minha vida tomou novos rumos.
Penso no que aquilo pode significar e decido não ficar com a dúvida:
Você não quer mais me ver, é isso?
Não, a gente pode se ver, mas preciso resolver umas coisas...

Decido que o melhor é dar espaço para ele. E encaro o espaço que preenchi de tantos afetos efêmeros. Está ficando deserto. Está ficando infinito. 



Aparece uma publicação sua no meu feed do Facebook. Muitas curtidas. Entre elas pode estar o porquê desse distanciamento. Um dos nomes salta da tela e dança na minha frente. Estou pálida e com o coração apertado. Vinícius. Esse é o nome que quase nunca consigo pronunciar. O que ele faz aqui?

Saio da frente do computador anestesiada. A vergonha parece que não cabe em mim. Quero deixar de existir, por favor, alguém! Tenho pesadelos à noite. Imagino você e o Vinícius trocando figurinhas sobre mim. O que acham de mim? Insegura? Ridícula? Ela é louca, vivia atrás de mim. Passou mais de ano atrás de mim. Tive que bloquear ela das minhas redes sociais. Você assentindo com a cabeça: oloko, ela me assustou mesmo. Ainda bem que me livrei dela. A interação entre vocês variava, ora não sabiam de mim inicialmente e só descobriam ao longo de uma conversa, ora tinham se tornado amigos por esse problema em comum. 

Não podia deixar de achar cruel que, em algum momento da minha vida, alguém tivesse pensado em reunir as duas pessoas que mais me rejeitaram. Sentia vontade de me defender. Não é bem assim, fofinho, você está me interpretando errado. É diferente! Eu sabia que ele não queria nada comigo, só ele não sabe que eu também não. Eu tenho um jeito estranho de demonstrar isso, eu sei. Mas, eu juro, é diferente.

Você, caramba, você parecia gostar de mim. Você parecia me querer por perto. Para me exibir como uma conquista louvável. Eu não teria insistido em você se não tivesse sentido isso. Eu não estaria escrevendo sobre você se tudo fosse tão claro quanto "ele não está a fim de você".

Você é um escroto! Você é como ele! Eu explodia internamente.



O mundo parece que vai desabar todo de uma vez. E não existe lugar onde me refugiar. Depois do João, envio mensagem para você e para o aquariano que conheci em uma festa. Ele inventa uma desculpa, não quer, ops, não pode me encontrar. Você...

Visualiza. E. Não. Responde.



Desculpa  finalmente decido te responder
Fiz algo de errado?
Não, fofinho, não fez. Só não tava me sentindo bem acompanhando as suas redes.
Posso saber por quê?
Já disse...

Não gosto de me sentir rejeitada.



Eu vou embora  aviso o João por mensagem
Sério? Você já se decidiu mesmo?
Já. Já falei para a minha família
Quando você vai?
Em um mês.

O João soube antes de todos os meus amigos. Ele, que me amou mais que os me amaram sem talvez nunca me amar, foi embora antes de mim.



Esse livro é ótimo  o aquariano disse espiando um livro jogado em cima da cadeira do meu quarto.
Você quer? 
Por que você vai dar seu livro?
Não vou conseguir colocar tudo na mala.
Você vai embora?
Meus olhos enchem de água. Rolo pela cama até ficar de frente para a parede e de costas para ele.
Vou...
Ele fica em silêncio e promete não me fazer mais perguntas. Acrescenta:
Quero te ver antes de você ir.

(Não vou conseguir ir te ver. Ele me fala um dia antes da partida).



A mala que eu carrego é pesada. Tento deixar o que não vai ser útil, me esforço para desapegar de tudo. Penso que não deve ser difícil para alguém que sente que não tem lugar. Tento me doar ao máximo, mas,  quando olho para trás, vejo que nada fica. Meu deus, não fica nada!


Não deixo nada. Em ninguém. 


Jenny Yu

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