segunda-feira, 7 de março de 2016

Ele não gosta de mim

Acordo às sete da manhã encharcada de suor. Lá fora a temperatura deve estar em 20°C. Não faz sentido.

Prostrada em um colchão no chão de um quarto quase sem mobília, penso no sonho que acabo de ter. Estou no ônibus a caminho de casa (que casa?) e, por algum motivo, carrego uma dor imensa. Penso em chorar. Sinto que preciso, mas acabo me distraindo ao olhar para a garota de rosto inchado ao meu lado.

Ela também se vira pra me olhar.

– O que houve? – antes de conseguir me segurar, deixo escapar.
– Foi esse cara que conheci...

No sonho, ela narra cenas de amor, incompreensão e abandono. Fala de alguém que voltou a fazer seus olhos brilharem, se censura por ter se entregado tanto (Eu vi alguns problemas nele, sabe, coisas que me incomodavam, mas ele me tratava bem), relata o distanciamento (Parei de curtir as fotos dele e ele retribuiu), cogita uma explicação...

– Ontem eu vi um like dele – ela diz e me olha com receio de parecer doida – Eu sei como ele age quando está a fim de alguém...

As minhas lágrimas finalmente começam a cair. Ela me olha surpresa:

– Você também gosta dele?
– Sim – me surpreendo admitindo isso. É a primeira vez que eu falo: eu gosto de você.
– Como foi com você? – ela me pergunta voltando a chorar.
– Foi… foi igual – consigo dizer antes de desabar no choro.

Foi igual. E talvez não seja tão dolorido saber desse novo amor quanto saber que houve outra que, por alguns encontros, você fez se sentir especial. Durante todos esses meses, me perguntei se você nunca pensava em mim. Se nunca sentia uma dor no peito ao saber que não conseguíamos fazer tudo se resolver. Se não te incomodava que eu tentasse te afastar e te bloqueasse de tudo para logo em seguida me sentir ridícula e readicionar.

Durante todos esses meses, eu esperei por essa notícia que me libertasse: tinha alguém. Alguém mais especial.

Mas a verdade é que existiam várias. Existem mulheres que choram no chuveiro no dia do aniversário. Provavelmente depois de receber um “Parabains" seu. O que isso faz de mim? Onde isso me coloca? No que você transformou o meu personagem na minha própria história?

Fito o teto do quarto e penso se devo levar esse sonho para a análise. Ou se devo simplesmente levá-lo comigo. Lembro da garota do sonho que me diz ter colocado lembretes no celular para fazer um descrushamento. Ele não gosta de você. Penso que essa informação já estava dada desde o princípio.

Talvez deva adaptar o meu lembrete para "Você não é especial". Mas confesso que tenho medo de lembrar e acreditar demais nisso. Tenho receio de um dia precisar ser especial para alguém e não conseguir mais.

Jenny Yu

3 comentários:

HellseekeR disse...

Não compreendi o “Parabains" ... qual o sentido disso? grato!

Anônimo disse...

Ei menina Seane, "O fantasma" não seria o penúltimo texto da série? kkkk
Pelo visto a inspiração continua. Aproveitei pra reler alguns trechos e percebo que o cotidiano é recheado dessas situações, me identifiquei em muitos pontos.

secoelho disse...

Oi, HellseekeR. O "parabains" seria só uma forma engraçadinha de dizer "parabéns".

Oi, Anônimo, quando dei o título "É assim que acaba" também achei que seria o último. Mas tinha esquecido alguns textos. :O

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