Um dos discursos que mais me causam mal estar é o da
valorização. Valorizar é uma palavra ótima. Quem não quer ser valorizado? Quem
não quer mostrar e saber que tem v-a-l-o-r? É difícil imaginar alguém que
consiga dizer que abre mão da valorização. Você poderia argumentar que não
precisa realmente da valorização dos outros, mas, lá no fundo, imagino que você
faz uma listinha mental das coisas que gosta em si mesmo, das coisas que
valoriza, das coisas que o tornam uma pessoa legal e\ou aceitável.
Mas, o fato é que, de alguma forma, a valorização se tornou
um imperativo. E quando você está triste por um rapaz ou apenas expondo seu
ponto de vista para um público que não vai conseguir te interpretar como você
gostaria, ela sempre surge. A frase: mas você tem que se valorizar!
Eu tenho, é? Pois vou te contar uma novidade. EU NÃO ME
VALORIZO.
Não me valorizo, quando falo na altura de voz em que eu
desejo sem ligar para o professor que me lembrava que mulher bonita fala
baixinho.
Não me valorizo, quando xingo porque porra, caralho, que
diabos de merda aconteceu?
Não me valorizo, quando bebo com os meus amigos no bar e eu
mesma peço para o garçom trazer mais um chopp.
Não me valorizo, quando divido a conta com o peguete.
Não me valorizo, quando converso sobre sexo com quem me
pergunta.
Não me valorizo, quando digo que prefiro que falem pau e
buceta.
Não me valorizo, quando pergunto das experiências sexuais
das minhas amigas para tentar descobrir o que as mulheres gostam mais ou
evitam.
Não me valorizo, quando compro um pacote de camisinha na
farmácia para não escutar mais “ah, tô sem e agora?”.
Não me valorizo, quando escolho transar com um rapaz que
conheci há pouquíssimo tempo porque ele é lindo, simpático e sexo é bom e todo
mundo gosta.
Não me valorizo, quando tenho nojo de ser avaliada por
quilometragem.
Não me valorizo, quando ligo para o cara com quem eu quero
encontrar e o convido para sair.
Não me valorizo, quando quebro a cara porque o cara não
aceitou o meu convite e achou que eu era-fácil-disponível.
Não me valorizo, quando acho que ser difícil e fácil são
conceitos ridículos que caem por terra quando você encontra alguém que te
interessa.
E, principalmente, não me valorizo, quando acho que me
valorizar é não ficar triste diante das pessoas que recriminam a minha não-valorização.
Não me valorizo do jeito que querem que eu me valorize.
Valorizo o meu desejo. Valorizo meu conhecimento tácito e racional. Valorizo o
que eu acho que sou!
Daqui para frente, quando voltar a ficar triste por conta
das minhas escolhas ou atitudes e alguém me aconselhar a valorização, vou reler
esse texto e acrescentar cada vez mais linhas. Vocês poderiam me ajudar?