quinta-feira, 20 de outubro de 2011


Espero, espero e espero. Por você. 

Talvez essa filosofia não seja suficiente. Talvez os livros não pareçam tão convidativos se não puder te ouvir hoje. Talvez a arte realmente não faça mais sentido pro sujeito. Pra quê tanta informação? Pra quê tanta estética? Pra quê tanto divertimento? Nada disso me fez esquecer que existia você. 

Deve existir. Deus, tem que existir. Só preciso de um rosto. Um sorriso sincero, um olhar acolhedor, para desbravar o mundo ao meu redor. Além disso, nada faz sentido. É como atirar flechas, vendada, em um quarto escuro, com assoalho rodopiante. Uma hora eu sei que posso acertar meu alvo, mas terá sido sorte, um momento fugaz seguido de milhares de fechas perdidas no chão. 

Não sinto como se eu fosse fazer realmente falta para alguém se decidisse abandonar o quarto escuro onde sempre estive. Talvez fizesse falta, mas não a falta que você me faz sem que eu nem sequer tenha te conhecido.

Por favor, não demora...

Entra nesse facebook logo que eu quero dormir!

domingo, 18 de setembro de 2011

Impotência do mundo sensível


Eu conheci você. Você sorriu, eu sorri.
Eu conheci você. Eu falei, você escutou.
Você me conheceu. Eu expliquei, você tentou entender.
Eu convivi com você. Eu cantei, você riu.
Eu beijei você. Eu sorri, você brilhou.
Eu machuquei você. Eu fui sincera, você desmoronou.
Você me perdoou. Você me viu.
Dentro de mim, desde o começo.
Você sabia que eu não te magoava por não te gostar.
Au contraire, mon enfant.
Eu construí um cristal, você guardou.
Agora, ela me difamou, você ouviu.
Ela mentiu, você me julgou.
Você não me vê mais.
E o cristal quebrou.
Por que me sinto tão impotente?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carrée

Levantei. Finalmente livre, senti. Mas o sentimento me atordoou. Livre de que? Ha poucos instantes, me obrigava na tarefa de procurar, escanear, re-vistar. Mais e mais vezes, as mesmas janelas, as mesmas conversas, as mesmas pessoas. Sempre em constante movimento, como em uma quadrilha. Na qual nao fui chamada para dançar. Mais ainda assim estou paralisada. Paralisada de anseio, de curiosidade e de comodismo e de ocio. 

Minha corrente é a espera-nça de uma nova janela com uma nova resposta ou com um rosto desejado, preso em um quadrinho, com palavras presas em um quadro maior: o da falta de expressividade. Espero como quem espera um parente distante depois da guerra. Sou obrigada a esperar, mas nao sei porque.

Em certo momento, acho engraçado pensar que para os filosofos ja estavamos presos ao mundo das aparencias. Para alguns teologos, estavamos presos ao corpo. Ainda consigo sentir as duas prisoes, mesmo sabendo que o meu mundo das ideias é mais uma nova prisao que o nefasto mundo das aparencias me permite criar. A intençao aqui nao é filosofar. Mas me surpreendo ao tentar estipular a quantidade de prisoes às quais eu estaria realmente confinada. 

Ao sair de uma delas, logo começo a refletir e decido retornar, com o pensamento quadrado para caber bem nesse espaço.

[encaro a tela-cela]
moderna promessa
de tudo me ensinar
[até de me libertar?]

Com um haicai* retangular (tomei a liberdade de profanar as tres linhas dos verdadeiros haicai), sucumbo a esta "modernosa-idade" fazendo as devidas reverencias ao meu computador. Era o que faltava!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Complexo de Mariana



Você sabe, sempre acreditei que o amor conjugal acontecia apenas uma vez. E até hoje acredito que é assim. Mas não acredito no amor à primeira vista, mesmo que à primeira vista já tenha me sentido conectada com várias pessoas (genes, talvez). Não acredito no Amor de Perdição, acredito no amor cotidiano.

Assim, primeiro você simpatiza e se interessa pela pessoa para, com o tempo, passar a amá-la por todos os dias que passou ao seu lado e por tudo que construíram juntos. Em teoria é isso, sempre achei. Mas na minha vida, não aconteceu assim.

Quando era mais jovem, li a novela de Camilo Castelo Branco e confesso que senti um grande mal estar. Não acreditava que fosse amor o sentimento entre os dois personagens principais. Talvez uma ilusão, uma utopia... Até que apareceu Mariana, a garota que realmente conviveu com o rapaz, que o ajudou e que tinha motivos para dizer que o amava e, quem sabe, para ser retribuída. Nos romances, sempre gostei mais das segundas mulheres, pois elas tinham que fazer mais do que ser bonitas, chorosas e o amor da vida de um protagonista. Mas na vida real, não aconteceu assim.

Nunca tive que lutar pelo amor, nunca vi meu amor sofrer por outra mulher. Na maior parte das vezes, me sentia Teresa. Mas eu não sou escandalosamente bela, nem sensível, nem frágil, nem terna, nem... Não fazia sentido ser o objeto de um amor arrebatador. Mas não reclamava.

Só que a minha novela foi contada ao contrário. Um dia, a verdadeira Teresa apareceu e reivindicou seu posto de mulher amada. Muy bien. Quando a Teresa aparece, não demora muito para que a gente perceba. Nós, Marianas. E, hoje, estou aqui, de mãos atadas. Temendo pelo dia em que o Amor de Perdição te fará pular de um navio. Ela chorará, com certeza. Talvez terá que casar um primo, mas provavelmente sempre lembrará de ti.

Eu? Não tenho escolha. Não conseguirei escutar o barulho do teu corpo caindo no mar, pois nesse minuto sentirei o frio do vento na minha barriga e a água começando a me cobrir. Porque, sabe, meu amor, o amor conjugal só acontece uma vez.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Hunlha - À prova de bala



Lembro da visão dela quando saí correndo da parada. Gritei para que todos se abaixassem, mas muito estavam com fones de ouvidos. Ipods, celulares, mp3 players, consolos modernos que nos impedem de praticar assassinatos em massa. Taí, um dia ainda proponho isso pro governo.

Apesar de ter ficado preocupado, não acreditava que elas realmente fossem tão fundo atrás de mim. Recebi o chamado e executei minha missão na hora do almoço, mas talvez aquela não fosse apenas mais uma delas, com uma função medíocre. Sorte... ou azar. Pois não esperava pela perseguição, não esperava que tivesse que passar por uma parada de ônibus às 12h35min, chapada de gente. Tive tempo de dar um empurrão nela, mas não adiantou, a bala que veio acertou a garota. Acertou e atravessou. Não tive tempo de parar pra reparar nisso, continuei correndo, mas quando escutei o oco de corpo caindo no chão, sabia que tinha sido ela. Corri até que achei um lugar seguro e, no fundo, sabia que a caçada havia acabado com aquela bala que finalmente encontrara seu alvo. Elas não podiam chamar tanta atenção.

Voltei pro trabalho suado. “Essa cidade tá um inferno e essa engarrafamento de merda! Não se pode mais nem ir almoçar e descansar um pouco”, comentei na subida do elevador com alguns amigos. Depois do expediente, procurei o endereço do hospital nos sites de notícias e fui atrás da garotinha. O estado dela era grave. Com certeza não me deixariam entrar. Tive que usar meus recursos de caçador. Finalmente tive acesso à sala onde ela estava internada. Sentei lá e peguei na sua mãozinha, só um pouco menor que a minha. Ela abriu os olhos e virou a cabeça. Não lembrava mais a menina que empurrei na parada. Parecia que tinha sido toda maquiada pra parecer um cadáver. Mas não era só maquiagem.

Os olhos estavam cheios de medo. Mas ao mesmo tempo parecia me fazer mil perguntas. Resolvi quebrar o silêncio. “O que os médicos disseram?”

“A bala perfurou o meu pulmão”, disse com uma voz chorosa. “Foi grave, eles não têm muitas esperanças”, completou com a voz aguada, quase muda de lágrimas. “Não sei o que aconteceu, foi muito rápido, só dói tanto...”, de repente a menina, que talvez pudesse me odiar, estava ali, se abrindo...

Senti um pouco de inveja dela. Prostrada em uma cama com um quadro terminal. Não que eu tivesse vontade de morrer. Mas ninguém gosta de sentir dor... Pedi permissão para acender um cigarro, ela não respondeu, só fez como se não se importasse. O que é uma fumacinha pra quem tá fudido, né? Dei uma tragada e peguei na mão dela novamente.

“Sabe, não sei o seu nome, mas com certeza você é uma pessoa abençoada, mesmo que eu não acredite em Deus”. Ela me olhou com olhos incrédulos.

Fui desabotoando os botões da minha camisa xadrez e levantei a blusa branca por baixo. Dava apenas para ver uma mancha preta no peito. “Essa foi a minha primeira bala. Não atravessou, apenas ficou aí. Fiquei dias no hospital, enquanto os médicos tentavam me curar. Sem sucesso. Estou vivo, mas ela permanece aí. Há dias em que realmente desejava ter morrido naquele mesmo dia, que fosse uma bala fatal... A ferida foi grave, mas, por uma grande piada de mau gosto, sobrevivi. E a minha missão passou a ser caminhar com o peito ferido, latejando, e a suportar todos os segundos, todos os tic-tacs, sem saber qual é o objetivo disso...”

Dei uma tragada imensa no cigarro e demorei para colocar a fumaça pra fora. A garota pegou minha mão e deu um aperto fraquinho. Num impulso levantei a mão e enxuguei uma lágrima solitária que tinha parado já no fimzinho do seu nariz. Ela sorriu.

“Obrigada”, disse e dormiu. Acho que dormiu. Essa sortuda.

Abotoei a camisa e escondi a minha ferida. Me senti meio mulherzinha. “Mas que diabos, sair por aí me lamentando”. Olhei-a uma última vez. Parecia um anjinho só que com os lábios pálidos e a pele seca. Senti uma pontada no peito e tive que me encostar na janela pra retomar a minha consciência. Era hora de ir... para todos os lugares, ou para nenhum. Apenas vagar com dor e tentar fazer algum bem para tantos merdas que existiam por aí. O que seria do mundo sem esses merdas, né minha pequena?

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