Não, não vai ficar mais nada.
Não ficou da última vez. Ainda lembro. Foi na lavanderia. Preocupava-me
com sabão em pó e calcinhas por lavar, quando o pensamento veio. Era ele, o
outro, o primeiro. Ele estava feliz, ele abraçava outra e não doía nada em mim.
Senti falta da dor. Senti falta da certeza de ter perdido alguém que amava.
Cavei fundo. Reencenei nossos momentos mais dramáticos.
Nada.
Procurei me segurar na máquina de lavar. Ai, meu deus, quem
disse que era melhor nunca amar do que perder um amor? Pior era saber que o
sentimento ainda não tinha batido à minha porta. E se nunca batesse?
E então você. Tocando a campanhia e fazendo barulho em mim.
E então as minhas noites de sono. E então as minhas horas de estudo viajando
por você: suas palavras, seu corpo...
E então mais nada!
Pegue essas páginas que escrevi pensando em nós dois. Pegue
nossa felicidade imaginária. Não se esqueça de levar nós dois, apenas
personagens imaginários de uma história incompleta. Leve todos os tons em que
te pintei e todas as atitudes que desenhei para você. Fique com a resposta que
você não me deu. Com todos os seus levantar de ombros e descasos. Rabisque os
momentos (raros) que foram reais. Mas sublinhe as partes em que estava dito:
que era brincadeira.
Que não era nada. Que era tudo ilusão.
É só isso que vai ficar nas próximas linhas em branco.
Um comentário:
Gostei do texto. Muito bom. :)
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