- Seane Alves Melo?
Levantei e entrei na sala. Um deles me apontou a cadeira solitária
posicionada de frente para uma mesa larga e comprida de onde os três me encaravam.
Pediram para que eu me apresentasse.
Bom dia. Meu nome é Seane Melo e eu acabo de chegar de táxi.
Nesse momento, a única coisa que eu consigo dizer ao meu respeito é que eu
sempre uso cinto de segurança. No táxi que me trouxe há pouco, eu coloquei o
cinto no banco de trás, mesmo que o motorista não tivesse me pedido para
fazê-lo. No avião que peguei para chegar até aqui, deixei meu cinto atado
durante as três horas de vôo. Talvez eu devesse falar outra coisa sobre mim,
mas de repente percebo que o cinto de segurança diz mais sobre mim que muitas
outras coisas.
Vocês podem pensar que ser a garota do cinto de segurança só
diz que eu sou uma pessoa normal, mas eu acho que não. Para mim, normal é a
pessoa achar que o cinto é apenas uma ferramenta disponível para quem quiser ou
uma imposição boba. Quem não usa cinto não é transgressor. Quem não usa cinto
está apenas aplicando uma regra que ele aprendeu a achar inteligente: “nem tudo
na vida é necessário”. Não usar cinto é simplesmente mais fácil.
Quem usa o cinto, depois de refletir sobre a sua utilidade,
ainda tem que aceitar que nem sempre é ele que vai decidir o que é certo. Quem
usa cinto, escolhe o esforço, escolhe andar na linha. E, meu Deus, como isso é
difícil! Eu tenho andado na linha. Eu percorri o caminho que me disseram ser
correto. Dei passo a passo.
Lá fora, todo mundo me acha quadrada. Eu me sinto ampla e espaçosa. Mas isso pouco importa
agora. Eu sempre uso cinto de segurança. O meu caminho me trouxe até aqui.
E agora, nessa cadeira, peço licença para colocar o cinto. Pois a estrada vai
ser muito longa. Mas já estou pronta para essa nova viagem.
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