Às vezes eu me sinto assim e acho que é legítimo se sentir
assim.
É a mesma sensação do fim de uma conversa calorosa, quando o
assunto se dá por encerrado. Resta dizer “poxa, foi bom ter essa conversa”.
Resta escutar um “também achei”. Resta torcer pra não ser o fim.
Sempre chega o momento em que você se sente assim. No fim do
beijo de adeus. No fim do gozo. Acabou. E agora?
É o agora. Minha vida é sempre esse agora. Enchi a cara,
confessei meus pecados, defendi minhas ideias. Sou lúcida até bêbada. Estou só
até acompanhada.
Às vezes me esqueço de que sempre me sinto assim. Mas, em
geral, tudo é finito. Exceto esse sentimento de falta.
E se as conversas fossem mais longas. E se o momento
catártico do meio da garrafa de vinho durasse. E se não existissem beijos de
despedida. E se nunca gozássemos. Ainda assim existiria esse momento em que sou
quadro sem moldura. Sou falta, sou ausência.
A lógica parece ignorar que a moldura é muito menos que a
obra. Mas ainda assim, sou essa obra, que se sente incompleta, se sente nada.
Sempre me sinto assim. Em algum momento. Quando sou o buraco
e você – sempre imaginário e sempre fora de estoque – é o parafuso perdido e necessário para algo
que eu ainda nem imagino.
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