Julho
Você sempre pareceu bom demais pra mim. Mas, como quem recebe cem reais
a mais no saque do autoatendimento, eu guardei esse segredo só para mim.
Estávamos em um grupo de amigos quando eu te conheci, em algum dia
qualquer de julho. Você, raio de sol, que fez minhas pupilas cansadas se
contraírem. Eu não poderia esperar nada daquilo. Eu não iria esperar nada. Até
que você disse meu nome.
Você sabia o meu nome! E chamava-o a cada vez que me cumprimentava.
Pronunciava de um jeito que ninguém fazia. E guardava esse cuidado apenas para
o meu nome. O dia podia apenas começar e logo em seguida acabar apenas para eu
ouvir. Apenas para você falar.
Bom dia, Clarisse.
Boa noite, Clarisse.
Agosto
Você se lembra do dia em que dormimos juntos? Foi tão estranho. Você
roncava e parava. Ou eu dormia e acordava. Estava inquieta, ansiosa ou com
frio. Sem dúvida, confusa. Com medo do que você sentiria e do que falaria ao
acordar. Às seis da manhã, você me puxou pra perto de você e me abraçou de pau
duro. Pousou a mão sobre um dos meus seios e ficou brincando.
Silêncio.
– Ainda tá com sono?
Eu ri.
Setembro
Do sofá eu via a lua. Eu, deitada, ainda nua, olhando, triste, a lua.
Eu queria que você ficasse. Eram três da manhã. E eu precisava que você
ficasse. Para dormir olhando a lua comigo.
– Fica essa noite?
– Não posso.
– Fica pra sempre?
Você riu.
Mais tarde, o celular apitou. Era você.
– Em breve.
Outubro e Novembro
Nunca saquei que tipo de cara você era.
– Não sou esses babacas que tu conheceu – você dizia.
– Sinceridade?
– Sinceridade.
– Vamos mesmo no bar amanhã?
– Claro.
Talvez, o tipo que sumia e não avisava que já estava na hora d'eu
parar de esperar.
Dezembro
Você ligou. Queria me ver. Ia comprar vinho chileno ou português, se a
grana desse. Qualquer coisa ia apelar pra cerveja. Queria passar a noite
comigo. Queria que eu dançasse pelada. Queria tudo perfeito. Eu também queria.
Coloquei a cama embaixo da janela do quarto para transar à luz da lua.
– Essa lua é quadrada.
Só dava para ver a luz acesa do vizinho do décimo quinto andar.
Janeiro
Você foi embora.
Mas ainda somos amigos. No facebook.
E, por algum motivo, fico esperando que você comente minhas
publicações.
Ou responda, ao ler um desses textos, daquele jeito que só você sabe.
Acabou, Clarisse.
Um comentário:
E o mundo seguiu adiante.
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