Sentiu-se só e de repente teve medo de perdê-lo. Nunca tinha
sentido isso. Em relação a ele, pelo menos. Mas um filme de memórias – desses
que parecem editados com filtro earlybird – começou a rodar em sua cabeça. Eram
lembranças de beijos, pegações, romances e paranoias. No fim de cada cena, ele
aparecia aqui e ali. E, quando a imagem era ela apenas sorrindo para o celular, sabia
que do outro lado da tela também era ele.
– Quer chá?
Ele enviou em uma mensagem quando já passava das 23h.
Ela riu ao ler enquanto se arrumava apressada para o
encontro daquela noite. Hoje não.
– Quer chá?
Ele enviou em uma mensagem quando já passava da meia-noite.
Ela esboçou um sorriso mas se sentia infeliz demais para se
deixar seduzir pelo convite. Sairia de casa pela promessa de um amor, mas chá?
Hoje não...
O hoje, no entanto, sempre foi relativo. Eles sempre
pareciam desencontrados em seus compromissos. E o convite do chá,
estranhamente, nunca parecia chegar na hora certa...
Sentiu o coração acelerar na mesma velocidade com que o medo
de perdê-lo crescia. Não se perguntava o que seria exatamente isso, perdê-lo,
mas sentia que tinha demorado demais. Ele estivera sempre ali. Como a resolução
de um problema de matemática que parece insolúvel e da qual só nos damos conta
no meio da noite.
Prendeu a respiração enquanto digitava, como se
respirar fosse atrasá-la em algo.
– Ainda há chá?
Veio o primeiro marcador. Seguido por uma diferença de um
segundo do próximo. Ao lado da foto dele surgiu a palavra online. Finalmente,
os marcadores ficaram azuis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário