Sempre me senti uma narradora solitária dos meus amores. Uma garimpeira de pequenos movimentos, expressões e conversas. Construía sozinha os amores que jurava viver a dois. Pensava os pensamentos pelos dois. Antecipava medos alheios que eu só imaginava. E, desacompanhada, combatia os obstáculos que só eu vislumbrava.
Esses amores são meus textos. São as intrigas que enxerguei e extravasei em palavras. Antigamente, não conseguia perceber com tanta clareza que eram amores que eu amava sozinha e histórias que só eu vivia. Mas, de alguma forma, fui aprendendo. E o problema não era tanto ter uma vivência diferente desses recortes de vida a dois. Mas perceber que, em muitos casos, eu era a única que sentia.
***
um olho percebeu
o susto do outro
que descobriu certa alegria
as andadas
a pobre filosofia
correspondência certa
corou,
no chão
a busca de segurança
o tempo suspenso
mas eis
que mais uma vez
hesita
trai o de dentro
o erro
o verbo,
sempre ele
se une
não serve
mais
– não sou isso
nem aquilo
que você pensa –
meia volta
e se repete a história
desses
desencontros
nossos
de todo dia
2 comentários:
Que delícia de texto. Por vezes me pego também nesses amores solitários, só que diferentemente de você, dificilmente consigo escrever sobre isso. Apenas um amontoado de pensamentos, sobre as mulheres que já passaram pela minha vida, imaginando se no meio delas não estaria meu grande amor. A grande maioria eu apenas paquerava solitariamente, imaginando cenas no cotidiano de um casal feliz. Apesar de estar namorando hoje, ainda bate aquela dúvida, sabe: e se?
Seu blog é legal. Acompanho há algum tempo, apesar não comentar sempre.
Ás vezes fico meio na dúvida, sobre o que escrever, e por isso quase nunca sai nada. Produzir conteúdo não é fácil, e um elogio sincero sincero é sempre bem vindo.
Parabéns pela dedicação. Quando estiver inspirado, comento novamente.rsrs
Por favor, comenta sempre! E me deixa link pros teus textos :)
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