Eu peguei um ônibus hoje. Isso não poderia ser o começo de
uma história. E nem é. Está mais para o final. Peguei o ônibus e não conseguia
parar de pensar: “estou de volta, estou sem carro, vou demorar mais de uma hora
pra chegar...” Mas no meio disso tudo, o que estava presente mesmo era o medo.
Medo de encarar tudo aquilo e ter certeza de que voltei e ter certeza que tudo
tinha passado. Passou. A integração já não me serve de inspiração. Já não me
traz a promessa de amigos por encontrar. Nem do meu antigo amor esperando para
pegar o Recanto dos Vinhais. Olho para esse ônibus e tenho certeza de que tudo
está perdido. As brigas bobas, o seu silêncio, a vontade dele de descer antes
do ponto porque-era-mais-rápido, a sua chateação com a minha blusa, o fone de
ouvido dividido, o nosso suor e agonia em um ônibus cheio, o nosso tédio, a
nossa vontade de chegar. Essa integração lembra mais dele do que de todos os
meus 17 anos antes da sua chegada. Lembra o meu coração partido ao vê-lo escolher
outra parada. Mas, a cada dia que passa, esses sentimentos se desbotam, assim
como os ônibus cujo vermelho vai ficando cada vez mais opaco.
Esse não é mais o meu lugar. E talvez seja por isso que eu,
logo eu, que sempre me gabei de ser uma busóloga não consigo mais fitar esses
veículos sem me sentir estrangeira. Por um instante, dentro do ônibus, me senti
de volta em São Paulo. Por um instante. Mas faltam portas. E sobra sujeira e
barulho e uma sensação de que tudo é frouxo. As aparições e acontecimentos
bizarros da integração não me encantam mais. E, no meio dessa tristeza boba,
percebo que a vida era muito boa quando eu conseguia ser tão feliz que nem
ligava pra esses ônibus. Hoje a felicidade não anda mais de ônibus. E nem de
carro. Felicidade é um avião e um bilhete do metrô. Te encontro às três na linha verde, beleza?
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