Há um tempo, ouvi falar de um escritor francês que escreveu um livro sobre janelas. E desde então,
elas têm esse fascínio sobre mim. Toda vez que vou tomar um banho, despida,
encaro a janela aberta do banheiro dando as boas vindas para os curiosos que
desejam saber sobre a vida na Teodoro Sampaio.
Uma janela comum em banheiros, discreta, um pouco escondida, para os que olham de fora, por algumas árvores. Pequena e com vidros ondulados
que deformariam um corpo desnudo se um voyeur mais atento a descobrisse.
Ainda pelada, penso em quem seria o curioso que um dia
conseguiria entrever um peitinho entre as três
aberturas diagonais daquela janela. Talvez ninguém, talvez por isso ela
estivesse sempre aberta para uma rua eternamente movimentada. Quem, em um
daqueles carros, em um daqueles ônibus, trabalhando ou comprando no
supermercado, imaginaria que, a poucos metros do seu campo de visão, um pequeno
seio ainda com marca de biquíni estaria à disposição do olhar?
O delírio de um tarado, a repulsa de uma mulher por ter sua
intimidade revelada, agora era, ali, uma questão muito mais profunda. A mesma
questão da janela voltada para uma rua sem nenhuma movimentação. Em que a
liberdade de agir como quisesse gerava um desejo estranho pelo olhar alheio. A
ironia daquela janela aberta, exibindo de forma completamente gratuita e óbvia
tudo que muitos lutariam ou pagariam pra ver, mas que impedia, afinal, a visualização do que se pretendia exibido, me afligia.
Não que eu me regozijasse com uma olhada de desejo simplesmente ao meu corpo nu. Mas a importância das janelas abertas na minha vida se devia ao fato de eu me sentir como uma o tempo todo. Não importava se de frente para um caminho em desuso ou em meio a mais movimentada das ruas, muitas vezes parecia que ninguém nunca pararia para dar sequer uma espiadinha no interior.
*Texto de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário