Recentemente, comprei o livro da
Jana Rosa e Camila Fremder, Como ter uma vida normal sendo louca. Não fazia
ideia da existência do livro até duas amigas diferentes comentarem sobre ele em
um período de menos de duas semanas. Parecia engraçado e as autoras em si já são
muito engraçadas, resultado: comprei.
Mas não quis iniciar esse texto
para fazer uma “crítica” da obra. Nem para confundir as autoras com as
situações descritas no livro. Queria apenas falar sobre o “Ensinamento 15: sobre
dieta, academia e spa”. Esse ensinamento (ou capítulo) é
direcionado para mulheres que estão muitos quilos acima do peso (a partir de
5kg), que não cabem mais nas roupas e que decidem emagrecer. As autoras, então,
contam como é uma tortura experimentar vários tipos de dietas e escutar pessoas
falando sobre dietas. Ir para academia é outra tortura que só gente louca
tolera. E spa é a opção para quem chegou no fundo do poço, mas que apresenta resultados
apenas temporários. O ensinamento, então, conclui que “a vida é assim”.
Não é novidade para ninguém que é
muito difícil nos sentirmos satisfeitos com o que temos. Não só com o
corpo, mas com a inteligência, com a situação financeira, com a vida amorosa e
etc. Sinceramente, não é à toa que Lacan faz sucesso. Por que o tal do objeto
pequeno “a” é a descrição perfeita de como sempre estamos almejando chegar em
um estado de completude através da aquisição de algo que nos falta (o "a") e de como isso nunca acontece. Não porque nunca alcançamos algo que
queremos, mas porque no momento que alcançamos ele já não é mais nosso objeto
de desejo.
Nunca estive muito acima do peso
e não lembro de já ter sido chamada de gorda na minha vida. Ainda mais: nunca
me senti gorda. Sempre achei que estava num espaço intermediário entre as
magras e as gordas. Mas só muito recentemente tive coragem de dizer em voz alta
que eu não era satisfeita com o meu corpo. Eu acredito na ditadura da beleza e acredito que padrões assustadores nos são administrados goela abaixo. Mas não
achava que a revista feminina ou os desfiles de moda eram o que me fazia sentir
insatisfeita, pois eles não eram referências para mim. A minha referência era o
espelho e o que eu achava que estava sobrando ou faltando no meu corpo. A minha
referência era a limitação física que eu comecei a sentir a partir dos 20 anos,
como consequência de muito sedentarismo.
Admitir isso era muito duro para mim,
porque implicava assumir que eu ligava para essa futilidade que é um corpo
saudável e, de preferência, bonito e em forma. Eu senti medo de cair em algum
dos estereótipos que eu não gostava: da gostosa sem nada na cabeça, das
marombeiras de academia, das food haters. E nada disso combinava com o que eu
sempre valorizei mais, que eram os meus estudos, e com o que eu adorava fazer,
que era comer bolo.
Só para abreviar, essa história
não termina com um testemunho motivacional. Do tipo, “hoje sou gostosa e até
tentei citar um pouco de Lacan nesse texto”. Se tem algo muito bom que aprendi
desde que eu disse “cansei de ser a legal, quero ser gostosa também”, foi que
realmente dietas não funcionam e academia é um saco, se você não está buscando
essa mudança para você. Foi também que muita gente não sabe nada de dieta e
alimentação. Que se você for atrás de cortar tudo que é um vilão – glúten,
farinha branca, açúcar, lactose, etc – você vai surtar.
Eu sempre fui apaixonada por
doces e foi a primeira coisa que eu tentei tirar na minha busca por ser mais
saudável. Para várias amigas minhas, isso era muito fácil, porque elas NÃO
gostavam de vários doces. Mas eu gostava. E cortar isso funcionou por um tempo,
mas depois começou a me afetar no sentido ficar na fissura pra comer chocolate
de madrugada. Coisa que eu nunca fazia! E daí eu comecei a perceber que algumas
coisas funcionavam com outras pessoas exatamente porque elas não precisavam
daquilo ou simplesmente não gostavam.
Comecei a estabelecer minhas
próprias regras de alimentação saudável, com direito a brigadeiro, pão de
gorgonzola e hambúrguer! Mas em compensação, eu aprendi a comer FRUTA e a achar
salada uma delícia. Isso não mudou muito o meu corpo, mas me dá uma satisfação
imensa.
Espero que esse texto não
esteja motivacional ainda. O que eu queria dizer é que a garota muito acima do
peso da história fez tudo errado. Pois ela não tentou se compreender e se amar. Se ela não se gosta gorda ou fica triste
porque não cabe mais nas roupas, ela pode mudar isso! Mas ela tem que mudar
isso se respeitando, sabendo o que o corpo dela tolera. E descobrir como ficar
com o seu corpo em forma não é futilidade.
Achar que “a vida é assim” e
nunca ir atrás de mudança é uma das coisas mais tristes que alguém pode fazer. Ainda
mais se a solução para se sentir melhor for qualquer uma das que estão no “Ensinamento
16: como viver acima do peso sem que ninguém perceba”.
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