O fim de 2014 foi se aproximando e eu me peguei pensando em
Ivana Arruda Leite e no seu livro Alameda
Santos. A história é construída a partir de um ritual da autora de passar o
réveillon bebendo e gravando as
recordações de cada ano que se encerra. Lembrei do texto que escrevi sobre 2012
e decidi escrever este sobre meu 2014. Dois mil e treze, infelizmente, foi um
ano pulado. Não só na escrita. E, esse texto, tem tudo a ver com ele.
Ao olhar para trás e tentar começar a delinear essa história,
vejo muitos conflitos. Não brigas e desentendimentos, mas rebuliços internos.
Nesse ano, me deparei com a situação mais assustadora da minha vida até agora.
Me peguei aprisionada dentro de mim. O que talvez não fosse um problema se eu
não tivesse me dado conta disso. Algumas reflexões que eu havia deixado
espalhadas em várias gavetas e sacolas em cima do guarda-roupa, começaram a
aparecer em cima da mesa. E, quanto mais eu me recusasse a fita-las, mais a
vida se encarregava de torna-las necessárias.
Explico melhor. Em algum momento, olhei para os meus amigos e
constatei estarrecida que tantos passavam por tantos desafios e dores! A dor
deles era horrível. E, para mim, não me deixava esquecer que eu era ilha. Era
presa dentro de mim. E que, por mais que eu achasse que entendia como eles se sentiam,
eu sabia que não. Porque todas as minhas sensações estavam ligadas à mim de uma
maneira frustrante. Eu me sentia incapaz, eu me sentia miserável. E tantos
passavam por tanta dor!
Nesse momento, me senti afastada de tudo. De todos os que eu
amava e que, naquela época, só me lembravam do meu egocentrismo. Não conseguia
conversar realmente e me sentia forçada a interagir porque nunca havia me
sentido assim. Eu, que sempre odiei estar só. O que ainda me fazia sentir
ligada à “realidade” era o meu namorado e a interação diária que nosso
relacionamento me exigia.
Lembro que, em algum momento, quando já percebíamos que algo
não ia bem, eu fiz um pedido. Não me
deixa, porque eu não consigo lidar com isso agora. Hoje, me pego pensando
nesse pedido e me perguntando como pude ter feito um pedido tão egoísta. Não
que eu achasse que comprometeria a felicidade dele. Mas, de toda forma, eu
falava apenas de mim e do meu medo de ver tudo desmoronar. Eu não pedi para ele
não me deixar porque eu o amava!
Como vocês podem imaginar, esse relacionamento acabou. E,
apesar de achar certo, por dentro, ainda me sentia abandonada. Tentei proteger
a cabeça com as mãos e esperei tudo desmoronar. Queria contar que não foi isso
que aconteceu. No entanto, não seria a verdade. Desabou um pequeno pedaço do
meu teto. E, assim que caiu, algumas coisas ficaram muito mais iluminadas.
Olhei para os meus amigos e percebi que eles não esperavam
que eu sentisse a dor e os problemas dele, eles só queriam que eu estivesse
ali, feliz, ao lado deles. Olhei para o ano de 2013 e pensei que seria uma boa
encontrar a Seane de abril e maio. Aquela que estava cheia de brilho nos olhos,
falando sobre sinceridade, dando as costas para a ironia e desejando aprender
coisas verdadeiras sobre a vida. Aquela que tinha parado de tentar lidar com a
solidão e que tinha decidido, no final das contas, que solidão era algo que ela
precisava buscar para crescer um pouco mais. Aquela que estava livre de
relações sádicas. Aquela sem culpas.
Tive medo de ter perdido esse meu momento ao ter iniciado um
relacionamento. Mas, quando finalmente encontrei com essa minha versão, descobri
que eu ainda era a mesma (talvez um pouco mais interessante). E que 2014 era apenas
a continuação de um ano de transformações profundas.
Não queria ser injusta com os amigos que entraram na minha
vida e pareceram me entender sem dificuldades, ou com os que me aguentaram o
ano inteiro, na TPM e no tédio dos fins de semana. Não queria ser injusta com o
afilhado que chegou e já me proporcionou muito amor e admiração. Mas 2014, foi
um ano de desmoronamentos. Na minha vida e na de muitas pessoas que estiveram
ao meu redor.
***
A Ilustração desse texto foi postada originalmente no blog Moldando Afeto, na seção cartas amarelas. Uma das descobertas apaixonantes desse ano.
Um comentário:
AMEI esse livro "Alameda Santos" <3
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