quarta-feira, 20 de junho de 2012

O casal


Vi um casal abraçado no ponto de ônibus. Caía uma garoa e eles estavam apenas na ponta da cobertura do ponto. O rapaz ficava com as costas expostas para água, e, com os braços envoltos na garota, parecia querer protege-la não só da chuva, mas de tudo.

Beijaram-se. Esperaram um pouco e saíram andando.

Existe alguma coisa que diz respeito aos casais que olho na rua que vem me intrigando há dias. Quando os vejo de mãos dadas e comparo com a nossa imagem de mãos dadas, não consigo enxergar a mesma coisa. Quando vejo os beijos apaixonados que são dados em lugares públicos, encostados em algumas paredes, e lembro os nossos beijos no metrô não consigo encontrar a mesmo sentimento. Quando vejo um rapaz que tenta a todo custo apertar a garota contra si na praça da República, como que ensandecido de desejo, só assim lembro de uma despedida nossa na Rua da Consolação.

O que nos falta? Porque mesmo de mãos dadas, rindo, nos olhando ou beijando não alcançamos essa essência? Talvez sejam os meus olhos. Talvez por trás da vivacidade que eles têm ao te ver, todos possam ler as expectativas frustradas e as esperanças tolas que mantive de sempre estar com você. Talvez todas as horas esperando uma mensagem e um convite para um encontro cheio de saudade e paixão sejam lidos até com os olhos fechados e com um beijo em andamento. Talvez minha mão diga pra todos que, mesmo que meus dedos o tentem entrelaçar pelo máximo de tempo possível, esse homem não é meu. 

Não conseguimos nos conjugar no singular. O casal está? Não, não estamos. Nem por um momento. Apenas nos desejamos. E mesmo que a noção de casal seja também uma concepção numérica, nosso 1 +1 nunca vira dois. Continua sendo um e outro um. É, parece que há muito mais que gramática e matemática nessas formações que vejo todo dia – como se fossem as coisas mais naturais do mundo, mas que sempre fracasso em alcançar.

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