sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Nosso momento



“Meu corpo doía. Lembro disso. Nada em particular, apenas cansaço e o frio comendo na pele. Até que veio um primeiro barulho. Não liguei. Mas vieram vários outros barulhos. Não sei se você virou primeiro ou se fui eu. Na verdade, talvez já estivéssemos parados. Ainda assim viramos a cabeça. Os primeiros que começaram eram só os clássicos dourados, não muito altos, não muito surpreendentes. Não parecia interessante, mas não senti vontade de me mover. Ninguém se moveu. Esperamos. Começou uma chuva de luzes no céu que continuava chuviscando, chuviscos literais. Na chuva natural, visível pela poças de lama aos nossos pés, uma chuva de beleza irradiou. Comecei a sentir o pescoço doer por inclinar tanto a cabeça para trás. Em cima de mim, o céu explodia depois que pequenos raios luminosos o atravessavam, partindo do chão. Dourado, azul, vermelho, verde. Eles se repetiam, principalmente os vermelhos e azuis. Às vezes, caiam como estrelas, às vezes como cintilante prometendo colorir o chão, sem, no entanto, tocar a superfície.

Era lindo. E na minha cabeça, finalmente se desenhava a explicação para tantas pessoas se amontoarem para este espetáculo. Em outros lugares. Mas não lá. Havia outras pessoas, muitas, na verdade. Mas ao nosso redor, só o nosso grupo. E entre eu e você, apenas alguns passos. Passei a noite toda tentando te tocar. Te dar a mão, te mostrar que, diabos, devia ter alguma coisa entre nós. Algumas entrelinhas negligenciadas por você. Não sei se você me olhou durante os fogos. Também não consegui observar as outras feições. Por alguns instantes, me senti engolida pela singela beleza que pretendia me cobrir. Não havia o que pensar, o que descobrir, o que decifrar. Apenas olhar. Após a última desfragmentação das luzes no azul escuro, pude ver o seu olhar de êxtase e cumplicidade. Pouco antes de você virar para o lado e começar a falar com outra pessoa. Trocamos alguns comentários excitados e continuamos a caminhada. Dentro de mim, a minh’ alma se acalmou. Sem carícias ou sem palavras, nos tocamos. Em um momento para dois.”

quinta-feira, 20 de outubro de 2011


Espero, espero e espero. Por você. 

Talvez essa filosofia não seja suficiente. Talvez os livros não pareçam tão convidativos se não puder te ouvir hoje. Talvez a arte realmente não faça mais sentido pro sujeito. Pra quê tanta informação? Pra quê tanta estética? Pra quê tanto divertimento? Nada disso me fez esquecer que existia você. 

Deve existir. Deus, tem que existir. Só preciso de um rosto. Um sorriso sincero, um olhar acolhedor, para desbravar o mundo ao meu redor. Além disso, nada faz sentido. É como atirar flechas, vendada, em um quarto escuro, com assoalho rodopiante. Uma hora eu sei que posso acertar meu alvo, mas terá sido sorte, um momento fugaz seguido de milhares de fechas perdidas no chão. 

Não sinto como se eu fosse fazer realmente falta para alguém se decidisse abandonar o quarto escuro onde sempre estive. Talvez fizesse falta, mas não a falta que você me faz sem que eu nem sequer tenha te conhecido.

Por favor, não demora...

Entra nesse facebook logo que eu quero dormir!

domingo, 18 de setembro de 2011

Impotência do mundo sensível


Eu conheci você. Você sorriu, eu sorri.
Eu conheci você. Eu falei, você escutou.
Você me conheceu. Eu expliquei, você tentou entender.
Eu convivi com você. Eu cantei, você riu.
Eu beijei você. Eu sorri, você brilhou.
Eu machuquei você. Eu fui sincera, você desmoronou.
Você me perdoou. Você me viu.
Dentro de mim, desde o começo.
Você sabia que eu não te magoava por não te gostar.
Au contraire, mon enfant.
Eu construí um cristal, você guardou.
Agora, ela me difamou, você ouviu.
Ela mentiu, você me julgou.
Você não me vê mais.
E o cristal quebrou.
Por que me sinto tão impotente?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carrée

Levantei. Finalmente livre, senti. Mas o sentimento me atordoou. Livre de que? Ha poucos instantes, me obrigava na tarefa de procurar, escanear, re-vistar. Mais e mais vezes, as mesmas janelas, as mesmas conversas, as mesmas pessoas. Sempre em constante movimento, como em uma quadrilha. Na qual nao fui chamada para dançar. Mais ainda assim estou paralisada. Paralisada de anseio, de curiosidade e de comodismo e de ocio. 

Minha corrente é a espera-nça de uma nova janela com uma nova resposta ou com um rosto desejado, preso em um quadrinho, com palavras presas em um quadro maior: o da falta de expressividade. Espero como quem espera um parente distante depois da guerra. Sou obrigada a esperar, mas nao sei porque.

Em certo momento, acho engraçado pensar que para os filosofos ja estavamos presos ao mundo das aparencias. Para alguns teologos, estavamos presos ao corpo. Ainda consigo sentir as duas prisoes, mesmo sabendo que o meu mundo das ideias é mais uma nova prisao que o nefasto mundo das aparencias me permite criar. A intençao aqui nao é filosofar. Mas me surpreendo ao tentar estipular a quantidade de prisoes às quais eu estaria realmente confinada. 

Ao sair de uma delas, logo começo a refletir e decido retornar, com o pensamento quadrado para caber bem nesse espaço.

[encaro a tela-cela]
moderna promessa
de tudo me ensinar
[até de me libertar?]

Com um haicai* retangular (tomei a liberdade de profanar as tres linhas dos verdadeiros haicai), sucumbo a esta "modernosa-idade" fazendo as devidas reverencias ao meu computador. Era o que faltava!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Complexo de Mariana



Você sabe, sempre acreditei que o amor conjugal acontecia apenas uma vez. E até hoje acredito que é assim. Mas não acredito no amor à primeira vista, mesmo que à primeira vista já tenha me sentido conectada com várias pessoas (genes, talvez). Não acredito no Amor de Perdição, acredito no amor cotidiano.

Assim, primeiro você simpatiza e se interessa pela pessoa para, com o tempo, passar a amá-la por todos os dias que passou ao seu lado e por tudo que construíram juntos. Em teoria é isso, sempre achei. Mas na minha vida, não aconteceu assim.

Quando era mais jovem, li a novela de Camilo Castelo Branco e confesso que senti um grande mal estar. Não acreditava que fosse amor o sentimento entre os dois personagens principais. Talvez uma ilusão, uma utopia... Até que apareceu Mariana, a garota que realmente conviveu com o rapaz, que o ajudou e que tinha motivos para dizer que o amava e, quem sabe, para ser retribuída. Nos romances, sempre gostei mais das segundas mulheres, pois elas tinham que fazer mais do que ser bonitas, chorosas e o amor da vida de um protagonista. Mas na vida real, não aconteceu assim.

Nunca tive que lutar pelo amor, nunca vi meu amor sofrer por outra mulher. Na maior parte das vezes, me sentia Teresa. Mas eu não sou escandalosamente bela, nem sensível, nem frágil, nem terna, nem... Não fazia sentido ser o objeto de um amor arrebatador. Mas não reclamava.

Só que a minha novela foi contada ao contrário. Um dia, a verdadeira Teresa apareceu e reivindicou seu posto de mulher amada. Muy bien. Quando a Teresa aparece, não demora muito para que a gente perceba. Nós, Marianas. E, hoje, estou aqui, de mãos atadas. Temendo pelo dia em que o Amor de Perdição te fará pular de um navio. Ela chorará, com certeza. Talvez terá que casar um primo, mas provavelmente sempre lembrará de ti.

Eu? Não tenho escolha. Não conseguirei escutar o barulho do teu corpo caindo no mar, pois nesse minuto sentirei o frio do vento na minha barriga e a água começando a me cobrir. Porque, sabe, meu amor, o amor conjugal só acontece uma vez.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Hunlha - À prova de bala



Lembro da visão dela quando saí correndo da parada. Gritei para que todos se abaixassem, mas muito estavam com fones de ouvidos. Ipods, celulares, mp3 players, consolos modernos que nos impedem de praticar assassinatos em massa. Taí, um dia ainda proponho isso pro governo.

Apesar de ter ficado preocupado, não acreditava que elas realmente fossem tão fundo atrás de mim. Recebi o chamado e executei minha missão na hora do almoço, mas talvez aquela não fosse apenas mais uma delas, com uma função medíocre. Sorte... ou azar. Pois não esperava pela perseguição, não esperava que tivesse que passar por uma parada de ônibus às 12h35min, chapada de gente. Tive tempo de dar um empurrão nela, mas não adiantou, a bala que veio acertou a garota. Acertou e atravessou. Não tive tempo de parar pra reparar nisso, continuei correndo, mas quando escutei o oco de corpo caindo no chão, sabia que tinha sido ela. Corri até que achei um lugar seguro e, no fundo, sabia que a caçada havia acabado com aquela bala que finalmente encontrara seu alvo. Elas não podiam chamar tanta atenção.

Voltei pro trabalho suado. “Essa cidade tá um inferno e essa engarrafamento de merda! Não se pode mais nem ir almoçar e descansar um pouco”, comentei na subida do elevador com alguns amigos. Depois do expediente, procurei o endereço do hospital nos sites de notícias e fui atrás da garotinha. O estado dela era grave. Com certeza não me deixariam entrar. Tive que usar meus recursos de caçador. Finalmente tive acesso à sala onde ela estava internada. Sentei lá e peguei na sua mãozinha, só um pouco menor que a minha. Ela abriu os olhos e virou a cabeça. Não lembrava mais a menina que empurrei na parada. Parecia que tinha sido toda maquiada pra parecer um cadáver. Mas não era só maquiagem.

Os olhos estavam cheios de medo. Mas ao mesmo tempo parecia me fazer mil perguntas. Resolvi quebrar o silêncio. “O que os médicos disseram?”

“A bala perfurou o meu pulmão”, disse com uma voz chorosa. “Foi grave, eles não têm muitas esperanças”, completou com a voz aguada, quase muda de lágrimas. “Não sei o que aconteceu, foi muito rápido, só dói tanto...”, de repente a menina, que talvez pudesse me odiar, estava ali, se abrindo...

Senti um pouco de inveja dela. Prostrada em uma cama com um quadro terminal. Não que eu tivesse vontade de morrer. Mas ninguém gosta de sentir dor... Pedi permissão para acender um cigarro, ela não respondeu, só fez como se não se importasse. O que é uma fumacinha pra quem tá fudido, né? Dei uma tragada e peguei na mão dela novamente.

“Sabe, não sei o seu nome, mas com certeza você é uma pessoa abençoada, mesmo que eu não acredite em Deus”. Ela me olhou com olhos incrédulos.

Fui desabotoando os botões da minha camisa xadrez e levantei a blusa branca por baixo. Dava apenas para ver uma mancha preta no peito. “Essa foi a minha primeira bala. Não atravessou, apenas ficou aí. Fiquei dias no hospital, enquanto os médicos tentavam me curar. Sem sucesso. Estou vivo, mas ela permanece aí. Há dias em que realmente desejava ter morrido naquele mesmo dia, que fosse uma bala fatal... A ferida foi grave, mas, por uma grande piada de mau gosto, sobrevivi. E a minha missão passou a ser caminhar com o peito ferido, latejando, e a suportar todos os segundos, todos os tic-tacs, sem saber qual é o objetivo disso...”

Dei uma tragada imensa no cigarro e demorei para colocar a fumaça pra fora. A garota pegou minha mão e deu um aperto fraquinho. Num impulso levantei a mão e enxuguei uma lágrima solitária que tinha parado já no fimzinho do seu nariz. Ela sorriu.

“Obrigada”, disse e dormiu. Acho que dormiu. Essa sortuda.

Abotoei a camisa e escondi a minha ferida. Me senti meio mulherzinha. “Mas que diabos, sair por aí me lamentando”. Olhei-a uma última vez. Parecia um anjinho só que com os lábios pálidos e a pele seca. Senti uma pontada no peito e tive que me encostar na janela pra retomar a minha consciência. Era hora de ir... para todos os lugares, ou para nenhum. Apenas vagar com dor e tentar fazer algum bem para tantos merdas que existiam por aí. O que seria do mundo sem esses merdas, né minha pequena?

terça-feira, 17 de maio de 2011

Acabrunhada



“Fechei a porta de casa, enfiei a chave de qualquer jeito no bolso mais fundo e até pude sentir uns fiapos no fundo (talvez um buraco!). Comecei meu caminho, tentando me lembrar a cada passo qual era meu real destino. Estava meio escuro, mas não tinha certeza se era noite lá fora ou só no meu coração.

A cada pensamento ou mesmo a cada vez que o nome dele aparecia em alguma bruma imaginária na minha mente, a gastrite dava sinais de vida. Na boca, uma mistura de suco gástrico e saliva dele, em eterno refluxo, para amargar ainda mais a saga. Desci do ônibus com medo das conseqüências, pois minha barriga embrulhava a cada jura de amor lembrada.

Andei sem rumo, até me perceber perto de um mangue poluído. Não sei se o que percebi primeiro foi a lama ou o odor que me bateu. Não deu para segurar a ânsia. A mistura de lama batizada de excrementos e esgoto quase me fez vomitar as vísceras. Mas o que saiu foi uma poção dos nossos beijos, perdidos em uma água amarelada. Vomitei o que parecia décadas, mas talvez fossem apenas os nossos seis meses de namoro.

Quando finalmente cessou, continuei no caminho, meio cambaleante, pois não conseguiria parar se continuasse sentindo o bafo quente dele no meio daquela “lixama”. Abaixei a cabeça e prossegui assim. Não pretendia encarar nenhuma face, olhar nenhum céu, nenhuma estrela, nenhuma luz... Foi quando ela me apareceu. Redonda e luminosa. Enquanto dava uma passada mais larga que a outra, continuava olhando pro chão, para ver se ela ainda estava ali. E no meio das folhagens e da lama, ela iluminava parcamente a calçada. Achei irônico, mas no fundo foi um sinal preu vir parar aqui. Naquela noite, eu olhei a lua no chão”, terminei envergonhada e só tive coragem de dar uma olhada em volta quando escutei uma fungada ao meu lado direito.

Aplausos.

- Bem gente, depois desse relato, acho que a gente só pode dar as boas vindas pra nossa nova companheira. Vamos encerrar por aqui, mas lembrem-se do nosso lema “Sempre há tempo para amar”.

sábado, 9 de abril de 2011

Exame de Hanseníase


Não que o serviço público seja uma merda. Agradeço ao meu “trabalhinho”, toda vez que olho o saldo da conta no dia 05 de cada mês. É pouco o meu salário, mas os 150 reais que recebo a mais do salário mínimo fazem toda a diferença. Se fazem!


Não tinha perspectiva de encontrar trabalho melhor. Na verdade, foi uma puta sorte ter passado nesse concurso. Fiz só pra arriscar e acabei entrando nesse Posto de Saúde. Me colocaram no setor de diagnóstico de hanseníase, apesar deu nem saber como se fazia isso na época. Pelo menos sabia o que era hanseníase. Talvez tenha sido por isso que fui parar lá. Apesar da pouca formação, acho que fiz minha educação servir pra alguma coisa. Não sou burra, aprendo coisas até em propagandas. Hanseníase, por exemplo, aprendi que era lepra assim. Mas aposto como muito sabichão do meu colégio ignora.


No trabalho, tem mais três meninas como eu, o resto tem diploma e pompas. Nêgo acha que quem trabalha em serviço público não é bom, mas a Dra. Marta Gonçalves, pelo menos, é uma das melhores profissionais que já vi. Ela que fez meu treinamento e o das meninas. A Ana tem a melhor letra daqui e ainda consegue ser a mais rápida no preenchimento dos cartões de saúde. A Rosana é boa em babar o ovo dos chefes e só com isso ela leva a rotina de trabalho numa boa. Eu tinha que ser boa em alguma coisa. Sempre me dizia isso quando pensava na minha vida medíocre, com salário medíocre, beleza e inteligência medíocre. Mesmo sendo pobre e não tendo diploma, a gente quer se orgulhar de alguma coisa na vida. E depois de dois meses, podia encher a boca para dizer que fazia a melhor análise de hanseníase desse Posto.


Aqui tem gente que acha que o que importa é rapidez. Faz sentindo, quando você tem mais de 100 pessoas pra analisar só entre as sete e as nove horas da manhã. A maioria das pessoas que vêm aqui, não tem nada mesmo. Vem muita menininha classe média, da pele bonita, à base de O boticário e esses produtos mais cheirosos, ser examinada só pra poder tirar carteira de trabalho. Só que nessa garantia, muita gente deixa de analisar direito, achando que as probabilidades de encontrar um portador são realmente pequenas. Já tive meus achados. O primeiro deve ter sido o momento mais feliz da minha vida. Era só uma manchinha no braço, parecia sinal de nascença, mas eu fui atrás e tchanram! Dra. Marta passou a semana me elogiando.


Nesse dia, tudo estava normal: número de pacientes normal para o horário de pico. Chamei as meninas de 10 em 10, até que lá pelas 11h15 só tinha sobrado uma. Resolvi fazer logo o exame dela e vazar pro meu almoço. Pedi pra ela tirar a calça e a blusa. Tem examinador que diz que nem precisa tirar a calça toda, mas não fui eleita a melhor nesse exame sem ser minuciosa, né? Ela estava com um lingerie bem bonita e tinha um puta corpo! Desde que comecei aqui, acho que já vi todo tipo de lingerie. Só de olhar já dá pra saber se foi barata, se o pano é bom e qual é mais ou menos o estilo da mulher. A que eu mais gostei foi uma cheia de quadrinhos. Até fingi que tinha visto um sinal para tentar ver a marca: era uma tal de Thais Gusmão. Procurei que só, mas nunca achei nas Americanas.

Voltei a me concentrar na minha paciente. Bonitinha demais, essa menina. E olha que me garanto na sexualidade, mas, nesse dia, bateu um negócio estranho... Pedi pra ela levantar os braços, mostrar as mãos e virar de costas. Aí foi que o bicho pegou. Pense numa bunda! Linda, e parecia ter vindo ao mundo pra ser usada com aquela calcinha ou sem nenhuma... Tentei me concentrar no exame, mas a bunda me chamava. A menina não reclamou , talvez porque não imaginasse que o exame leva em média um minuto. A bunda tava me roubando total, até que vi uma manchinha avermelhada perto do quadril esquerdo. Bela desculpa! Ela disse que era de nascença, mas fiz questão de apalpar e não foi só no sinal! Fiz mais três checagens até me convencer de que não era hanseníase. Liberei ela. E voltei pra minha sala um pouco chateada. Que merda, acho que tô olhando mulher demais.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Não confie em beijos


"Sabe, querido, hesitei em escrever essa carta, mas se o faço é por você. Sei que pode não ter acabado bem e que grande parcela dessa culpa seja minha, mas não posso deixar de ignorar os seus últimos comentários. Ouvir dizer a boca miúda, que você já ama. Apesar dos meus erros e das minhas escolhas, confesso que isso dói em mim. Até pouco, ainda me ressentia bastante pensando que amava você. Evitei muitos caras, um pouco por medo de ser ruim devido aos meus sentimentos por você, um pouco por medo de gostar e descobrir que podia estar enganada quanto a esse amor há um bom tempo. Mas um rapaz, confesso, me tentou e eu sucumbi. Tentei protelar o momento do beijo, mas, num momento em que estava distraída com a conversa, ele simplesmente me beijou. E não foi estranho, não foi insosso, não foi sem graça! Foi doce, foi gostoso, porra, dá vontade de beijar o cara só de lembrar. Imaginei que talvez ele pudesse ser seu substituto, mas não quis contratar sem ter feito a seleção com o restante. Dei sorte! Cinco dentre cinco beijavam absolutamente bem. Uns com um beijo que mais parecia um toque de seda sobre a pele, outros com uma língua exploradora e umas puxadinhas leves no cabelo, todos bons. Conclui que não te amava mais e que poderia ser feliz. Até ouvir falar desta que hoje você diz amar. O beijo dela deve ser bom. Deve beijá-la sem culpa, sem obrigações com um susposto sentimento por mim e com aquela vontade de levar aquilo para algo mais. Talvez você ainda não tenha entendido o porquê desta carta. Mas é simples, querido. Beijos não falam, eles enganam. Não pense que não me ama. Você não sabe, da mesma forma que nunca saberei". 

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