quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Minha nova newsletter fitness



Quando idealizei o E o mundo seguiu adiante... imaginava que esse seria o espaço onde eu poderia publicar e compartilhar todas as minhas experimentações literárias. E, acredito, tem sido assim até hoje. Aqui e ali, no entanto, tive muita vontade de compartilhar mais que as estórias que escrevia. Foi assim que acabei escrevendo alguns textos como Meu corpo não é futilidade, É preciso sentir dor e Linda sem esforço. Em comum, esses textos tinham não apenas o tom argumentativo, mas o fato de que falavam de um mesmo tema: o corpo

Por não achar que esse blog era o lugar apropriado para todas as coisas que eu pensava, pesquisava e queria trocar sobre esse outro lado da minha vida _o lado em que eu sou uma frequentadora de academia e vivo experimentando receitas malucas fitness_, eu comecei a explorar esse conteúdo em vários lugares, mas nunca me senti realmente a vontade para assumir isso como um conteúdo central de algum espaço.

Recentemente, no entanto, descobri o tinyletter. Uma site/rede que te permite enviar newsletters com toda a facilidade do mundo. Somei um + um e voilá! Criei um espaço para a Blogueira Fiteness _a presença de um "e" a mais se deve a uma brincadeira com a pronúncia_ que já habitava o snapchat @secoelho e o twitter @secomedia. Para receber meus e-mails _estou fazendo promessas mentais para que sejam semanais_ é só assinar a newsletter nesse link. Espero que gostem!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A vida, as redes sociais e o creme de espinafre

Tinha um texto para publicar aqui, mas, logo que acordei hoje, eu soube que ainda não o faria. Imaginei-o como uma massa de pão, que precisa descansar por um tempo até crescer um pouco. Então, logo me vi em busca de algo_ que não fosse rotina, tristeza e melancolia_ para postar aqui. Esbarrei com um jornal velho ao lado da cama e decidi não adiar mais aquela leitura enquanto esperava por uma ideia. As ideias para os textos, eu pensava comigo, vem de irrupções. Superfícies que se abalam, águas calmas que tremulam. As metáforas, aqui, não são mero charme da escritora. De fato, essas imagens _do incidente, do desvio, da intriga_ têm povoado a minha mente. Talvez porque a vida, nos últimos tempos, nunca passe disso: águas calmas que nem as turbulências dos pensamentos conseguem agitar.

A leitura que eu queria fazer no jornal antigo era a de uma entrevista com a escritora Elvira Vigna, indicação recente de amigos. Na entrevista, minha atenção disparou quando a autora falou sobre o mito falido do fodão, os aspirantes à matadores de elefantes. "Hoje, não: você tem uma vida banal, cotidiana, difícil. É muito mais difícil levantar da cama, difícil dizer bom dia para o porteiro e ir para um trabalho que não te satisfaz do que matar um elefante". Eu poderia assinar embaixo, Elvira. Se há algo que o home office e, mais recentemente, o desemprego me ensinaram foi que levantar da cama talvez seja a tarefa mais difícil de cada novo dia que surge. Mas, talvez eu hesitasse em concordar, por não acreditar que já podemos chamar isso de mito falido.

Em dias que me senti muito triste, na semana passada, peguei o meu celular com a intenção de falar publicamente sobre a minha dor e compartilhar (não é esse o verbo que as redes usam?). Antes de conseguir apertar o enviar, no entanto, minha mente iniciou um grande exame de consciência. Por que eu não partilhava aquilo com meus amigos, pessoas que, imagino, realmente se importam comigo? Os motivos eram vários: eles não estavam passando por nada daquilo e eu não queria preocupar ninguém ou ocupar o tempo deles com problemas que não poderiam ser resolvidos por eles, mas que eles poderiam encarar como mais uma preocupação. Mas por que eu queria tornar público em uma rede social? Isso fazia parte dessa onda de superexposição da vida privada?

Tentei não compartilhar nem metade do que me afligia. Achei que seria difícil, que talvez precisasse ficar sem utilizar as redes como um todo para não permitir que algo ficasse evidente. Mas logo descobri que as fotos de comidas, os mini vídeos e as frases irônicas _aquelas que não se levam a sério_ conseguiam marcar a minha presença em rede sem que nada fosse visível. O próprio esforço para estar presente em rede e produzir conteúdo de qualidade para os outros _meus amigos? meus seguidores?_ tem me feito pensar muito sobre o mito do fodão. É quando você se sente pior, menos produtivo e mais deslocado, que você percebe o quanto as redes sociais estão povoadas de pessoas incríveis. Elas comemoram as conquistas diárias, elas sorriem todos os dias, elas comem fora, elas adoram tomar drinks, elas contam as novidades boas do trabalho. E mesmo quando reclamam, elas reclamam de serem muito solicitadas pelos amigos ou pelos eventos; os mais normais reclamam do calor, da maquiagem, de algo que compraram, do sono, da fome... O lado positivo é realçado, o negativo é apenas um motivo para uma empatia, mas (quase) nunca revela algo das fragilidades pessoais.

Eu, na minha presença nas redes, aceito as regras do jogo. Consciente ou inconscientemente, procuro algo que tenha algum potencial de consumo e entretenimento para brindar meus contatos. De preferência, algo que ajude a construir uma melhor imagem de mim. Uma imagem bem humorada. Às vezes, penso nisso com rancor. Mas logo me ocorre que, se sempre que estivesse me sentindo desanimada, eu compartilhasse meus pensamentos, provavelmente estaria fazendo um grande desserviço às pessoas que me seguem ou leem, incentivando vários pensamentos negativos enquanto eu mesma sempre busco o contrário para mim.

Esse longo texto, portanto, não é uma defesa da tristeza, da dor e da desilusão pública. Esse texto, se aceitam a minha sugestão de definição, é um texto sobre o creme de espinafre. É uma defesa da banalidade. Porque, em geral, o que me faz levantar da cama todos os dias não são meus amigos, uma festa, uma bebida ou qualquer promessa de uma aventura. É aquele pensamento vago de que preciso fazer alguma coisa com o espinafre que comprei domingo na feira antes que ele estrague. Às vezes, é possível até mesmo transformar o espinafre em uma aventura: gravo declarações de que nunca fiz um creme de espinafre antes e de que vou usar uma couve no lugar do molho branco. As pessoas que me seguem no Snapchat (@secoelho) já imaginam se aquela receita vai dar certo ou não. Se eu gravo mais alguns vídeos de 10s falando do andamento da receita, tenho a impressão de que transformo a banalidade em algo que é consumido, assistido e ressignificado. Mas a única espectadora de "cozinhe a couve até ficar bem macia" e "espere a água ferver para branquear o espinafre" sou eu. E essa é a parte mais importante da vida. É assim que 24h vão sendo silenciosamente consumidas. E talvez não faça nenhum sentido dar um final para esse texto. Talvez não seja possível acertar no sal. Algo sempre vai ser selecionado, pré-codificado, algo que não é a banalidade do creme de espinafre. Mas eu bem que gostaria que fosse.


O espinafre do Pinterest parece melhor que o meu

sábado, 15 de agosto de 2015

Leituras de Agosto

Esse blog nunca foi tanto o espaço onde eu falava sobre o que estava fazendo. Em geral, ele é um espaço para os meus textos, meus pensamentos. A maior parte exibida na forma de estórias. Mas, ultimamente, tenho sentido esse impulso estranho para publicar, para produzir e compartilhar. Tenho tentado tornar os meus dias cada vez mais produtivos e encontrar uma forma simples e gostosa de crescer de alguma forma. Talvez por isso, ou por uma soma de vários fatores, tenho me voltado muito para a leitura. Comecei a acompanhar o trabalho das meninas do Clube do Livro Erótico, me comprometi a participar do clube do livro da querida Chez Noelle e, de quebra, ainda tenho as leituras pendentes que me laçam olhares enviesados na estante.

Esse mês, então, me desafiei a ler três livros: Eu sou uma lésbica, Suicídios Exemplares e Americanah. Como o mês ainda está na metade, comecei o último livro dessa lista só hoje. Mas quis escrever logo um pouco sobre os outros porque a minha memória não é nada invejável.

Eu sou uma lésbica, de Cassandra Rios

livro cassandra rios
(Leitura do Clube do Livro Erótico)

Uma grande amiga me emprestou esse livro, há mais de um ano, porque sabia que eu tinha muito interesse por literatura erótica. Ela apenas disse que talvez pudesse me interessar e que eu passasse quanto tempo quisesse com o livro. O resultado é que nunca dei muita bola para ele até outra amiga comentar comigo sobre a autora, a Cassandra Rios. Eu nunca tinha ouvido falar dela, nem em cursos e listas de literatura erótica brasileira e, no entanto, ela tinha sido uma das autoras mais vendidas da década de 1970. A obra de Cassandra sofreu muita censura do nosso regime ditatorial e, ainda assim, a autora conseguia vender 300 mil livros por ano. E não eram livros com estórias quaisquer. Cassandra é uma pornógrafa de carteirinha e, pelo que li, muitos de seus livros tinham o lesbianismo como temática central. Que loucura, não é?

Em termos de escrita, achei o livro bem simples. O que não é um defeito necessariamente. Ao mesmo tempo em que não encontramos nenhuma construção espetacular, também não corremos o risco de sentir uma certa vergonha alheia que algumas falas e descrições de atos sexuais podem causar. Em termos de enredo, a história é muito enxuta. É até espantoso que a gente percorra um tempo considerável da vida da protagonista, Flávia, em tão poucas páginas. Mas essa impressão se deve, possivelmente, pelo fato de o desenvolvimento da estória estar muito atrelado à paixão dela pela vizinha, dona Kênia.

Tive umas ressalvas quanto ao desfecho da história. Mas, no geral, achei a leitura muito boa porque encontrei uma personagem lésbica sem traumas ou abusos, no passado, que pudessem sugerir qualquer coisa de recalque ou medo do sexo masculino. Flávia se diz uma lésbica genuína (por mais que isso soe bizarro em algumas comparações dela com outras garotas lésbicas do livro). Além disso, o tempo todo me senti surpreendida por algumas das ideias da personagem, que me mostraram que, aparentemente, eu não tinha nenhuma ideia do que é ser lésbica.

Suicídios Exemplares, de Enrique Vila-Matas


“Para que me exibir (raciocinava Anatol cinicamente) e por que dar os meus textos para impressão, se no que eu escrevo suspeito não haver mais que uma cerimônia íntima e egoísta, uma espécie de interminável e falsificada fofoca sobre mim mesmo, destinada, portanto, a uma utilização estritamente privada?”. Em A Arte de Desaparecer.

Decidi que queria escrever sobre o que estava lendo, principalmente, por conta desta leitura. O livro foi um outro empréstimo e confesso que comecei a lê-lo pela simples vergonha de passar tanto tempo com o livro de um amigo. Se ao menos eu imaginasse!

Acho que, nesse período da vida, estou vivendo mais um momento de provações, incertezas, ansiedade e melancolia (que é uma tristeza leve, segundo o Vila-Matas). Quando peguei o livro para ler não imaginava que o título estivesse REALMENTE relacionado com as estórias dos contos, mas estava enganada. Assim, me peguei, em um dos momentos em que me sentia mais triste, lendo estórias de personagens que, pelos mais diversos motivos, se depararam com a ideia do suicídio. Se você leu o que eu escrevi até aqui imaginando que este livro é muito triste, então acho que é preciso que eu lhe alerte do contrário. Quase todas as histórias beiram ao absurdo (e ao cômico), mas o que me atraiu foi que, mesmo em enredos fantásticos, pude encontrar em cada um dos personagens muitas “verdades” sobre a vida, a rotina, o cansaço, a melancolia, os nossos relacionamentos...


Quis grifar muitas frases. As que eu mais gostei, em sua maioria, me fizeram dar boas risadas pois ao mesmo tempo em que beiravam ao absurdo, ao insólito, eram de uma sinceridade tão crua! Ao ler esse livro, me senti como se finalmente estivesse encontrando um jeito de dividir algumas dores e frustrações. E, se tivesse a chance de conversar com alguns dos personagens dos contos, imagino que poderia me pegar repetindo: sei bem o que é isso, sei bem o que é isso.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

No que eu penso quando penso em sexo

Sexo é uma imagem. 

Tentava escrever um conto erótico, mas sempre se impacientava com a ideia daquelas descrições demoradas. Beija boca, beija peito, aperta mamilo, beija boceta, lambe boceta, molha o pau na boca, enfia assim, enfia assado, fala isso, faz aquilo. Não! Não achava que sexo era isso. 

Apesar de muitas vezes ter se flagrado excitada lendo livros eróticos, de todo o tipo de reconhecimento literário _o desejo é um cara que não se liga muito em qualidade literária, sejamos francos_, não achava que conseguia escrever uma aventura erótica naqueles mesmos moldes. O que a impedia era ela... e o leitor. Não o conhecia bem. Não sabia do que ele gostava. Apesar de as danças sexuais nunca parecerem variar tanto, ela tinha receio de detalhar algo que não o excitasse. Mas, para descobrir o que o excitava, tinha duas opções: ou fodia o leitor ou, e esta segunda opção parecia mais promissora, revelava o pensamento que nunca antes expressara...

O de que o sexo é só uma imagem. Não que ele seja sempre igual ou mesmo imóvel, veja bem. Mas o enredo do sexo está só em um detalhe. Em Nabokov, sexo era a marca do elástico do short na barriga de Lolita. Um short com elástico cuja infantilidade gritava aos olhos do leitor. A marca do elástico que a retirada do short revelava. Depois tanto fazia, se olhava, se beijava, se chupava, se cutucava... O erotismo tinha ficado ali, na barriga marcada pelo elástico do short.

Para ela, o sexo em Bataille também estava em uma imagem mental, que não era o olho ou o ovo ou o culhão. Elegia para si a imagem do prato com leite. A personagem sentava no prato e nada mais importava. Quem olhava por baixo ou se filetes de leite lhe escorriam pela perna.

Por isso lhe parecia tão difícil escrever um conto erótico. Não tinha paciência para as preliminares. Para as descrições, para os enredos, para as ações sequenciadas. Tudo podia dar no mesmo _na morte do gozo_ ou em nada. Mas o que importava era a imagem. No começo, no meio ou no fim. Cada trepada se resumia a uma imagem.

Mas para escolher a imagem, voltava para o leitor. Ainda era preciso fodê-lo. Ou imaginá-lo. E, finalmente, masturbar suas palavras. Escolheu para si um leitor lindo, moreno, ator de televisão_qualquer correspondência com a realidade é mero acaso. E a imagem... bom, podia ser uma mecha de cabelos arrancada. O suor escorrendo em profusão. A cama batendo insistentemente na parede. O vizinho na janela. Podia ser o ímã que fazia os corpos se colarem com facilidade. Podiam ser os olhos... 

Mas era a língua. Era a posição da língua dele. Era a forma como ela podia ser vista, entre um gemido ou um arfar, meio esparramada e meio pronta pro ataque. Era ela quem dava o comando. Olhando para a língua, era possível adivinhar o olhar dele e o próximo movimento. Ele se inclinando para mais perto dela. O beijo molhado. E já não se sabia se eram as línguas e as salivas que os molhavam da cabeça aos pés ou se era suor e outros líquidos.

Sentiu-se satisfeita. No papel, as palavras eram fragmentadas, mas, no pensamento, a simples imagem da língua úmida e suculenta_ que adjetivo para uma língua!_, fazia o plano correr em sequência.

Ela era toda suspiros, ele era todo...língua. 



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