domingo, 16 de novembro de 2008

Fazendo estórias dos fatos

Crônica baseada na notícia:

Adesivo de bicheiro dá "imunidade" no Rio
O adesivo de um haras de propriedade de um bicheiro colado no vidro traseiro do carro é usado por moradores da zona norte do Rio como salvo-conduto para evitar blitze da polícia e assaltos a automóveis.
O Haras Escafura, de cavalos de corrida, pertence ao bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha, 78. Seu Zé, como é respeitosamente chamado pelos moradores, é "dono" da contravenção em mais de dez bairros da zona norte do Rio e já chegou a ser preso no início da década de 1990, com a cúpula do jogo --hoje, está solto.
"O adesivo me salvou. Iam roubar meu carro, mas viram o plástico e perguntaram: "Você trabalha na banca (de jogo do bicho)? Então pode ir!" Não trabalho, mas disse que sim", contou um comerciante da região, que abriga máquinas de caça-níqueis da família e pediu para não ter o nome publicado.
Um advogado disse à reportagem ter vivido situação semelhante. Foi liberado de um roubo a mão armada depois de um criminoso ver o plástico redondo, em preto e branco, com a imagem da cabeça de um cavalo. "Deixa ir embora, tá com o plástico, tá com o plástico!", gritou um deles.
A dica para Valéria Souza usar o símbolo veio da própria polícia, diz ela. Um PM parou seu carro, que estava com documentos e IPVA atrasados. "Pede o adesivo do haras do Seu Zé, que ninguém mais vai incomodar em blitz. Com o plástico você passa direto." Folha, 21 de agosto.

Os bandidos e o plástico
O advogado estava atravessando a rua para chegar ao carro que estacionara do outro lado, sem perceber o pequeno movimento vindo de um bar abandonado que estava ao lado de seu carro. A iluminação da rua vinha de um único poste há 10 metros de distância e do letreiro com o nome da farmácia que acabara de sair. Bastou chegar perto do carro para perceber os dois vultos armados que caminhavam na sua direção.

– Calado! Calado, chegado! – disse o primeiro muito rápido – Passa tudo! Passa tudo, se não te meto bala! – falou e posicionou a arma na direção do peito do advogado.

Este tremia e tentava tirar a carteira e o celular ao mesmo tempo, forçando o bolso, tremendo e apertando os dedos no jeans duro da calça. O primeiro cara ficava cada vez mais nervoso gritava que ia matá-lo e ferrar com a família dele.

– Eu sou veneno chegado, não brinca comigo! Eu já saí da cadeia.

Ainda mais amedrontado, o celular parecia afundar cada vez mais no bolso, que a esta altura parecia um poço para as mãos suadas e descontroladas do advogado.

Na situação que estava, ele não teve tempo de reparar no outro homem, apenas sabia que ele não estava mais do seu lado. Não sabia há quanto tempo não estava mais por perto, pois aqueles pequenos instantes eram, sem dúvida, os momentos mais longos da sua vida.

Foi quando ouviu o grito:
– Deixa ir embora, tá com o plástico, tá com o plástico!
O outro imediatamente “gelou”. Pálido, perguntou:
– Tem certeza, porra?
– Tenho! É o plástico, é homem de seu Zé! Vamo embora, mermão!
– Espera, bicho. – disse nervoso e tirou uma faca do bolso.
– O que tu vai fazer bicho? Vamo vazar! – o outro partiu pra cima do amigo e puxou sua camisa de uma vez, na direção da rua escura ao lado.

Deixaram o advogado paralisado no meio daquela semi-escuridão. Ainda estava com a mão no bolso, mas só percebeu isso quando começou a sentir um latejar nos seus dedos vermelhos. Percorreu o carro tentando entender de que plástico os bandidos falavam, mas encontrou apenas o velho adesivo com a cabeça de um cavalo na traseira do seu carro. Deu mais algumas voltas no automóvel até se convencer que aquele era o único plástico visível naquele lugar. Entrou no carro, sem querer exigir mais nada da sorte e prometeu a si mesmo que, a partir de então, compraria qualquer adesivo que lhe oferecessem em sinais.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Onde fica a história dos motoristas intransigentes?

Desci do ônibus com meu cunhado e fui andando no meio fio, esperando pelo momento de atravessar. Passou um carro e talvez dois, mas eu e Arthur continuávamos conversando distraidamente no meio fio. Percebi que um ônibus iria passar na rua e resolvi esperar no mesmo lugar. Qual não foi a minha surpresa quando o ônibus veio diretamente na minha direção. Esperei um pouco para ver se ele desviaria: nem sinal de desvio. Parei de pensar e recuei para o outro lado da pista, bem a tempo do ônibus passar, sacudindo os meus cabelos com a proximidade.

“Porra – resmunguei – isso aqui não era pra ser o meio fio?”, perguntei ao meu cunhado. O “meio fio” a que me referia era apenas duas listras amarelas paralelas pintadas no chão e pontuadas aqui e ali por algumas pedras (?) também amarelas e florescentes. “Fosse o que fosse, era pra ser o meio fio”, pensei.

Foi aí que meu cunhado me fez uma confissão. Ele disse que isso é que era o “foda” da História. Não entendi. “Se, no futuro, eu pegasse um documento que falasse sobre o trânsito dessa época, lá poderia estar registrado que os carros não podiam invadir o meio fio, mas na prática eu não saberia o que aconteceu. Eu nunca saberia que, em uma terça à noite, um ônibus invadiu o meio fio e quase atropelou uma pessoa”, explicou.

Desde então, a informação começou a incomodar os meus neurônios, como se fosse uma coceirinha e se torna uma grande coceira. O que Arthur tinha dito era uma verdade incontestável. Ou quase. Afinal, o que é um documento? Pra mim, que não sou perita nisso, um documento pode ser praticamente qualquer coisa que fale, descreva ou registre alguma coisa. Com esta idéia, recorri ao computador e mais que rapidamente redigi esse pequeno texto para não ficar fora da história.

Quem sabe daqui a alguns anos, pesquisando nos lixões eletrônicos do século XXI, encontrem o meu humilde blog e este depoimento venha à luz. Então as pessoas saberão coisas realmente relevantes do nosso tempo: o dia-a-dia fora dos Diários Oficiais e a rotina desprezada enquanto acontecimento.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O bater de asas amarelas

Há dois ou três dias (18 e 19), São Luís do Maranhão foi invadida por milhares de borboletas amarelas, ou, melhor, isto é o que o portal imirante e a globo dizem.

Para mim foi muito diferente... Estava em casa, lendo alguns textos esquecidos e aproveitando o conforto da minha cama, quando o Sol inundou o meu quarto. Imediatamente me levantei para fechar a janela... Observei a rua e o céu pela janela, e tudo parecia mais que normal, se não houvesse reparado no comportamento incomum das borboletas amarelas. Nunca imaginei que existiam tantas no meu bairro, mas pensei que apenas estavam fugindo de algum barulho ou de alguma construção que houvesse destruído o seu habitat. Encostei um pouco a janela para que nenhuma delas, que voavam sobre os telhados e vinham na direção da minha casa, entrasse no meu quarto, porém continuei observando o movimento e esperando, em vão, que este parasse.

Sai correndo para chamar Panqueca, a minha gatinha, e mostrar para ela quanta comida sobrevoava o nosso telhado. Não a encontrei, mas encontrei a secretária da minha casa, e, juntas, ficamos observando boquiabertas enquanto eu tentava fotografá-las, também em vão.

Sai de casa à tarde, já esquecida do ocorrido pela manhã e fui até o centro sem reparar, em nenhum momento, no caminho que percorria. Cheguei ao meu destino e lá estavam as borboletas, voando apressadas por sobre os telhados. Não pude mais ignorá-las. Lembrei dos elfos, ou dos grandes sábios (ficcionais ou não), que escutam a natureza e, imaginei como seria a reação de um destes diante daquele fenômeno. "O sábio subitamente olhou para trás e parou, atenciosamente escutava o vento enquanto observava uma borboleta que por lá voava, até vislumbrar uma nuvem amarela que se movia em sua direção. 'O mundo está mudado', disse ao seu amigo. 'Coisas realmente importantes estão acontecendo neste instante, devemos partir imediatamente. '”.

Desejei como nunca entender o comportamento das borboletas e não conseguia parar de olhar para o céu. Porém, ao meu redor, todos pareciam ignorar a presença delas...

Ontem, no entanto, todos comentavam as milhares de borboletas que passaram pela minha cidade. Uma amiga acreditava que muitas catástrofes aconteceram do outro lado do mundo, devido ao bater das asas. Outra descobriu que as borboletas que vimos não eram simples e inofensivas borboletas amarelas, eram borboletas-vampiros, visto que não apareciam nas minhas fotos, para mim, estavam mais para borboletas-fantasmas, pois, por alguns instantes, até pensei que só eu podia vê-las...

Já os cientistas são um pouco mais sisudos: "ainda segundo os biólogos, o fenômeno pode ter sido provocado pelo aumento da cobertura vegetal que serve de alimento para as borboletas ou por algum desequilíbrio ambiental que tenha provocado a migração dos insetos", veiculou o site imirante.

Não sei não, hein?
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Veja o vídeo sobre o fenômeno

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Sobre amor e miudezas...

Recentemente, assisti a uma entrevista com Robert Happe disponível no youtube, na qual, o pesquisador espiritualista fala, por 34:20min, basicamente sobre como o homem deveria parar de afirmar que a vida é difícil e inexplicável e, simplesmente, amar.

Instigada pelas palavras acalentadoras do entrevistado, resolvi pôr em prática seus ensinamentos e, para isso, escolhi o momento exato: minha ida à casa de uma amiga.

Entrei no ônibus com o intuito de ser simpática e jorrar amor por todos os lados. Desejei boa tarde ao motorista, tentei fazer aquela cara de "eu já superei todas as coisas mundanas" que algumas pessoas têm. Sorri para a velhinha cheirosa que sentou ao meu lado. Enfim, não cabia em mim de tanto altruísmo. Peguei outro ônibus, agora um lotado. Fiquei na porta, encontrei um velho amigo e fui, feliz da vida e pendurada no ferro, até a minha parada.

Parei, então, para algumas reflexões... Perguntava-me se tudo aquilo daria certo. Parecia que sim, afinal, se todos se amassem seria uma boa. Mas e se só eu amasse os outros? Bem, aí as coisas não dariam tão certo assim. E o que eu poderia fazer para que todos se amassem? Talvez o mundo devesse ser mais simples, e, como o próprio Happe disse, as pessoas deveriam parar de tentar lucrar em cima das outras...

Parar de lucrar! Bem, para isso, conclui, seria necessário que a passagem de ônibus ficasse mais barata.

sábado, 28 de junho de 2008

Ê, Maioba! O meu batalhão!

Todo o ano a história se repete, centenas de pessoas se reúnem alvoroçadas diante de um palco para assistir um famoso boi oriundo do Passo do Lumiar e com sotaque de matraca. Os bois de matraca que me perdoem, mas falar em matraca é falar em Maioba.

Os turistas ficam inquietos enquanto aguardam ansiosamente pelo tão falado boi. Os que já assistiram alguns bois com sotaque de orquestra, imaginam roupas esplendorosas, dança graciosa e bem ensaiada e a melhor orquestra que já foi utilizada nesta dança popular.

Quando os 6 ônibus que pude contar chegam trazendo os brincantes e músicos, a atmosfera fica muito mais tensa. Uma moça, que vende os CD's e DVD's do grupo, exibe uma camisa em que se lê: "Boi da Maioba, a maior orquestra de percussão do Mundo”.

Todos lutam por seus lugares perto do palco, eu consigo o meu na segunda fileira. Depois de dez minutos de passagem de som, pontuados pelos comentários de um integrante do grupo, ouve-se a voz de Chagas, o famoso cantador da Maioba.

Minha prima reclama que o palco é muito pequeno para tantos integrantes e eu aproveito para alertá-la que melhor que ver o Boi da Maioba é ouvi-lo. Meu irmão me corrige: melhor que ver e ouvir Maioba é senti-lo.

Enquanto isso, a música de Chagas comprovava o que meu irmão dizia, quando as matracas entraram na dança, todos, brincantes e espectadores, entraram em sintonia. Era a batida do coração ou eram as batidas dos pés no estrado, não sabia dizer o que aquele som representava, mas achei bom, apesar do calor, me senti engolfada por aquela atmosfera de calor humano e sonoro.

Mesmo que eu não conseguisse escutar o coro, e que o som da percussão fosse muito baixo para as primeiras fileiras (depois pude constatar que atrás estava melhor), considerei o som em si um show a parte.

As roupas ou fantasias deste ano estavam melhores que em anos anteriores: as índias e os caboclos de pena ainda conservavam a maior parte das penas que compunham seus trajes. Além disso, havia mais unidade nos trajes dos brincantes que em anos anteriores. Muitos brincantes estavam visivelmente bêbados, uns bêbados de cachaça, outros de amor. A dança dos "artistas" era mais instintiva que ensaiada, o que deixava o espetáculo um pouco desorganizado.

A coisa só piorou quando apareceram os "turistas", sem mais nem menos subiram no palco e começaram a dançar com os chapéus dos brincantes e a tirar fotos em plena apresentação do grupo. Os dançarinos menos empolgados não pareciam se importar, atrasavam a dança para sair nestas fotos também.

Já os caboclos de pena, não se desconcentravam na sua dança e cumpriam a sua missão de balançar seus grandes e pesados chapéus de pena. Aquela dança rodada era a mais fascinante.

Foi, então, que percebi: as matracas, as zabumbas e os pés batendo no chão naquela animação podiam muito bem resumir o grupo que este ano comemora 111 anos de Maioba. Entendi a paixão que o grupo despertava ao olhar pro céu e ver quanta poeira dançava alegremente lá em cima. O Boi fez tremer o chão e sacudiu a poeira. Observei alguns instantes, mas, em seguida, abaixei a cabeça: cinco ciscos acabavam de entrar nos meus olhos.

sábado, 24 de maio de 2008

O mágico Canto Orfeônico


Fazendo algumas pesquisas sobre educação, música e Grécia, me deparei com o desconhecido: um tal canto Orfeônico. Instigada pela curiosidade tentei entender que tipo de canto era este e, agora, em síntese, lhe apresento o fruto de uma pesquisa relativamente extensa, mas muito proveitosa.

Orfeu (do grego Orpheos) é, como até a difamada wikipédia pode afirmar, um deus da mitologia grega. O que distinguia Orfeu dos outros deuses era o seu talento para a música e para a poesia. Conta-se que o canto de Orfeu tinha o poder de atrair animais terrestres e aves, assim como as contemporâneas princesas de Walt Disney fazem nos filmes.

Além da gramática, da aritmética e da astronomia, os gregos davam muito valor à música. Nomes, como o de Platão e Pitágoras, podem aparecer em artigos de música. Não por acaso, a música dos ainurs criou o Universo da Terra Média em Tolkien.

Mas não é preciso discorrer tanto sobre a música para chegar ao ponto essencial: o canto orfeônico. Como vocês devem imaginar, o canto orfeônico consiste na utilização da voz, principalmente, e de outros instrumentos, como a lira, para o encantamento dos animais. Surpreendi-me ao constatar em documentos que este tipo de canto não era visto como uma litania ou como uma insanidade. Para meu espanto, este gênero musical era ensinado em Écoles bem conceituadas na Idade Média.

Por sorte descobri um pouco do que se ensinava naquela época, ou seja, o “programa da disciplina”. Além de técnicas vocais, como respiração, classificação e colocação da voz, o futuro orfeão deveria aprender alguns "rituais" essenciais. Em primeiro lugar, aprendia-se a atitude do orfeonista, e, pelo que pude entender, tanto a posição como os gestos do músico eram fundamentais para o encantamento do animal. Além disso, antes de iniciar sua prática o orfeão deveria realizar uma saudação orfeônica, como uma espécie de demanda de permissão para a natureza, que promoveria a perfeita sintonia entre o orfeão e a natureza.

Encantada com os métodos de ensino do canto orfeônico, ainda agora me pergunto quais as razões que privaram o nosso tempo desta modalidade de canto. Talvez ele fosse pudesse propiciar ao homem a comunicação com os outros seres, talvez lembrasse ao homem que ele também é parte da natureza e do cosmo, talvez...

Não sei até que ponto o leitor acompanhou o meu encanto por este canto, até a pouco, desconhecido por mim, mas gostaria de dizer-lhes que não se deixem enganar por minhas palavras. O canto orfeônico existe ainda hoje e não é a arte de encantar animais, muito menos o documento que eu encontrei era da Idade Média, na verdade era apenas o programa da cadeira de música e canto orfeônico de uma escola maranhense do séc. XX. A definição acima eu inventei, canto orfeônico consiste em um canto coletivo praticado por estudantes, e chegou a ser obrigatório em alguns países, como a França. Não deixa de ser interessante, mas eu preferiria se fosse de outra forma...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Frases que marcam o Brasil

Coerção, em uma compreensão básica, é a ameaça da aplicação de alguma sanção por parte de um indivíduo de forma a induzir outro indivíduo a uma ação. Para Dahl, teórico das Ciências Sociais, a coerção consiste em uma mudança das possibilidades do outro indivíduo. Este conceito não é tão difícil entender quando se pensa no Brasil.

Uma famosa frase da nossa história pode, fora de um contexto, ser considerada um exemplo de frase coercitiva, ou melhor, de uma imposição. Estou falando da clássica "Independência ou morte!”, proferida pelo príncipe regente às margens do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. A frase que virou título de capítulo em livros de História e que integra o refrão do nosso Hino da Independência.

Como disse, fora do contexto, esta frase é uma baita coerção! Ou Portugal consentia com a independência da sua colônia ou morria. Na verdade, até hoje tenho dúvidas sobre quem morreria. Será que Dom Pedro I estaria disposto a morrer lutando? Será que as elites brasileiras estariam dispostas a isso? Especulações a parte, a verdadeira coerção foi imposta um pouco antes do "grito de liberdade". Basta recorrer ao seu livro de História do Brasil para relembrar que a Corte portuguesa havia dado um ultimato a D. Pedro, desautorizando suas ordens e o ameaçando de perder a sucessão ao trono. Assim, diante deste ultimato, as possibilidades do príncipe regente mudaram.

Desta forma, a coerção pode ser observada em muitos momentos da nossa vida, não só em grandes eventos, mas nas pequenas relações, na família, na escola etc. Pensando na célebre frase de 7 de setembro, me recordei de outra frase...

Uma que é dita em diferentes horas do dia, em feriados, fins de semana e dias úteis. Que não é proferida por nenhum príncipe, mas por diversas pessoas, de diversas classes, nobres ou não. Que não é dita à margem de riachos, mas à margem de lagoas, em ladeiras, em pontos de ônibus etc. Aquela que foi adotada por diversos brasileiros, por diversas razões. Que, por gozação, é dita como "característica" da cultura brasileira. E que, com freqüência, muda as alternativas de diversos brasileiros. Não poderia ser outra...

"A bolsa ou a vida!"

terça-feira, 6 de maio de 2008

A primeira pessoa

Eu pensou em escrever um texto. Sobre ele. Começaria assim: Eu...
Mas Eu pensou que talvez os Outros nem se importassem em saber o que ele queria tanto escrever. Na verdade, até acho que Eu tava certo. O que importava todas as coisas que ele tinha percebido há alguns minutos?

Pensou, então, em escrever um texto muito bom, com outras palavras, mas que no fundo deixasse como mensagem exatamente o que Eu tava sentindo. O "grande lance" era não ser na primeira pessoa.

Oras, que preconceito com a pobre dessa pessoa. Parecia que ninguém se interessava por ela. Eu parou para se entristecer, afinal, era exatamente das desventuras dessa pessoa que queria falar.

"Mas, meu caro Eu, a literatura é universal. Não pode se prender a vida de uma simples primeira pessoa, não pode ter somente a função emotiva." Eu esperou que algum sábio pronunciasse estas palavras ao seu ouvido. Porém, sem que isso ocorresse, Eu regressou a consciência. Que fato peculiar era aquele, porque logo ele tinha que ser A primeira pessoa. Porque primeira? Porque hierarquizar pessoas?

Pensando em todas essas fracas reflexões de Eu, eu resolvi escrever, e mesmo que, como Eu, não desejasse inventar mais nenhuma outra história, acabei demonstrando tudo o que queria dizer. Como o bom escritor é aquele que se faz entender, acho melhor me explicar. E nessa empreitada, me entristeço, mais uma vez assim como Eu.

Existem coisas nessa vida que me são muito caras, e me apoio nestas coisas para, vez ou outra, me entender como parte de alguma coisa. Como agente, se é que me entendem. No entanto, sempre há esse momento, como este em que escrevo, em que me percebo na realidade, e qualquer coisa besta pode me levar a isso. É nesse momento que percebo, que não sou boa em nada e mesmo que fosse talvez não fizesse qualquer diferença, pois o mundo...grande e cheio de gente...

Bem, esse mundo sempre segue adiante...
sem mim e Eu.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Torre de Babel

Sentado confortavelmente em um sofá caramelo, Jean conversava com sua namorada. Animadíssima, ela exibia uma camiseta vermelha com uma estranha imagem pintada.

- Olha que lindo! Eu que fiz! – disse a menina com uma voz fina, enjoativa e que lembrava a imitação mal feita da voz de outra pessoa.

Jean resolveu provocar dizendo, com uma voz fina, enjoativa e que lembrava a imitação mal feita da voz de outra pessoa, que era mentira, que ela nunca teria feito aquilo. Contrariada, ela resolveu provar:

- Fui eu! – Disse em tom orgulhoso e com a mesma voz fina, enjoativa e que lembrava a imitação mal feita da voz de outra pessoa. – Eu fiz na minha oficina de estêncio.

Seu namorado, não se dando por satisfeito, resolveu especular. Perguntou, como quem não quer nada e com sua típica voz fina, enjoativa e que lembrava a imitação mal feita da voz de outra pessoa, se ela havia paquerado algum garoto. A menina retrucou dizendo que não, não havia paquerado ninguém, mas que o professor bem que tinha lhe dado bola. Jean amarrou a cara e disse que ela ficasse com o professor então. Sua namorada tentou consertar.

- Na verdade, ele não era professor, ele era só o menino que tava ensinando a fazer. – explicou apressadamente.

- Ah, então foi por isso que tu paquerou com ele? – indagou Jean, com um tom divertido antes de ambos caírem na gargalhada.

***

- Miau meeeê meow – disse a gata Panqueca com voz fina, enjoativa e que lembrava a imitação mal feita da voz de outra pessoa. Ela estivera escutando a narração de toda a historinha acima. Como poucos sabem miauês, traduzirei a palavras de Panqueca na seguinte frase: “Não entendi porque todo mundo tem a mesma voz!”

- Porque sou eu quem narra, oras! – disse a autora com uma voz que lembrava a voz fina e enjoativa, isto é, caso ela estivesse tentando fazer a imitação da voz de alguém.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A origem das torturas dentárias


Assistindo clipes de rappers ou cantores de hip-hop com todos os seus ouros e aparelhos de diamantes, me recordei de uma história sem precedente na história da humanidade. Tal história marca o início de um método de tortura menos estudado que utilizado, a tortura dentária. A pergunta que deu origem a esta história foi: da onde surgiu a idéia de arrancar os dentes saudáveis dos homens com métodos grotescos e sem nenhuma anestesia?
Aconteceu há muito tempo, poderia ter sido na época da Pedra Polida, mas não o foi por um simples querer do Tempo que acreditava que a Idade Média era o cenário ideal para o desenrolar da história. A nossa personagem principal é Rufão, nobre senhor feudal, glutão e colecionador de inimigos. Rufão, como todos naquela época, tinha um nome, uma vírgula e um predicativo logo após a vírgula que representava a característica pela qual ele ficaria conhecido através da história. No entanto, o acaso, que aqui quer dizer uns ladrões miseráveis, mudou significativamente o curso da sua história.
Rufão, Dentes de Diamantes. Como disse, Rufão era tão odiado quanto rico, e sua riqueza não se limitava aos 32 dentes de diamantes que colocara na boca. Um dia, recebeu um mensageiro em seu palácio que trazia uma carta do Rei de ***, reino onde se encontravam as suas terras. Segundo a carta, o Rei requisitava com urgência a sua presença em Rois, pois o reino estava na iminência de ser atacado pelos malditos ugevêses, bárbaros que se disseminavam como doença viral pelo seu território: tomando suas mulheres, matando suas crianças, comendo suas lebres e construindo casas cafoníssimas por onde passavam.
Rufão, que há muito passara a discordar das posições e alianças feitas pelo Rei, estava muito pouco interessado em entrar nessa furada, portanto, mobilizou apenas 30 de seus guerreiros e partiu para Rois, a fim de comunicar sua resolução ao Rei e aos outros senhores que lá se reuniriam.
Rufão cavalgava sempre a frente de seus guerreiros, pois não temia os pequenos vermes que se escondiam na estrada, desconhecia ele, que esses vermes agora integravam um clã e já tinham ótimas estratégias de assalto. Nessa época, além dos imensos vestidos com armação e das perucas brancas, também estavam em alta os seqüestros. Percebendo a aproximação de uma figura bem vestida e de dentes reluzentes, os bandidos imediatamente o reconhecerem como nobre e, ora, você já sabe o que aconteceu! Não passou outra coisa pela cabeça destes que não seqüestrá-lo e pedir uma boa recompensa para a sua família. E assim o fizeram.
Os soldados, que não estavam muito interessados em viajar até Rois, não se importaram de, após simular uma luta, voltar correndo para o palácio e avisar às esposas de Rufão o ocorrido.
Os ladrões já pensavam em como negociar o resgate quando, finalmente, reconhecendo o nosso glutão se deram conta da riqueza que estava escondida por aqueles lábios e aquelas bochechas gordas. Não era à toa que Rufão não dava um piu. Mal acreditando na sorte, os ladrões sem demora tiraram-lhe toda a roupa, roubaram suas moedas e o amarraram em uma árvore, pegaram uma maça e, sem cuidado algum, abriram-lhe a boca e começaram a arrancar-lhe os dentes. Após arrancarem uns vinte, pararam.
Esta parte da história é uma incógnita, pois não possuíam nenhum empecilho, pelo menos ao que nos parece. Porém, o desfecho da história nos permite algumas especulações...

Prossigamos: enfim, encontrou-se Rufão alguns dias depois: desnudo e amarrado a mesma árvore em que haviam arrancado alguns de seus dentes. Ele estava faminto, mas a boca já cessara de sangrar e ao ver seus homens, relatam que até emitiu "um sorriso sereno". Ao pé de Rufão, encontraram um pedaço de couro marcado com algumas escrituras. Poucos sabiam ler naquela época, nem o nobre Rufão o sabia. Demorou-se meio século especulando como ladrões do mato desenvolveram essa arte.

Por fim, após longos estudos descobriu-se que estes mesmo ladrões haviam inventado um novo idioma, que posteriormente foi adotado pelos habitantes do feudo de Rufão, e que no pedaço de couro haviam escrito:
“Coma menos lagarto,
Rufão, Bafo de gato!"

terça-feira, 18 de março de 2008

Meus sentidos

- Me abraça!

Algumas notas...

Leading me through all the way back home
Breaking with the self I was before
Now that time have changed
My memories are old, much too old

Sitting here, watching the river flow
If only you and I could say hello
Listening to the sound of silence
But you don't hear it anymore

Instintivamente aproximo meu nariz da tua nuca, o cheiro quente de shampoo e cabelo me envolvem... Sim, é bom se sentir assim.
Enterro meu nariz no travesseiro que dividimos como para me resguardar do mundo! Só o calor do cabelo, a percepção de uma respiração calma e a música ao fundo...

The flowing water takes my soul away
A last farewell with nothing more to say
But behind the rippling waves
I will become part of the river once again

So it's time for me to go back on my own
My new self joins the unity and keeps the river flow
This is not the right time
Our path will cross and we will meet again

Ergo minha cabeça e procuro repouso em teu peito...
Após algum tempo procuro os traços da tua face, enquanto tu reclamas que o meu queixo espeta tuas costelas. Volto à posição antiga e tento prestar atenção na voz que canta...

You should have told me that it got too rough
You asked for everything but maybe everything was not enough

Um movimento da tua mão me distrai novamente, tateio a procura dela.
Quando elas se entrelaçam, me perco novamente tentando entender a importância deste pequeno acontecimento...

Tua mão encobre a minha, e eu me sinto...
Sinto minha própria mão em todas as suas células e caracteres, como quem sente pela primeira vez o perfume que o acompanhou a vida toda, que sempre estivera ali.
Sinto-me menos... Menos estranha e deslocada. Sinto-me menor, com minha grande mão diminuída pela tua e me sinto delicada, entendo que o meu lado mais feminino desabrocha...

All divine and multicolored in many different ways
Enthralled to see the other side
I'm aware of all the beauty - from now on

Os meus medos me abandonam, aquieto-me após tentar ficar o mais próximo de ti, pra absorver teu calor, teu cheiro e para sentir-me...

All life reflected in the water, full of light
Moving gently far away
All this light will still surround me - from now on

...Feliz.

(PS.: A música utilizada no texto pertence a RPWL e se chama Everything Was Not enough)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Foto Novela - Capítulo Um


Durante a necropsia...


Shirley - ...pois é, Kalena, não sei se Ody é índia, mas quando ela chegou aqui, quase não falava, era só com Larissa e Diego o tempo inteiro....e agora...aff!!

Kalena - Menina, é isso que estou dizendo, ela não falava porque ainda não tinha aprendido o idioma. Só sabia o dialeto indígena da aldeia dela, tadinha! E como o povo de Imperatriz é bilíngue, fala português e dialetos indígenas também, ela se comunicava só com eles.

Shirley - Ahhh ta! Entendi! Então qualquer dia ela aparece com um toco no lábio inferior, né? .... Sim, Eliz, aqui estão as anotações da necropsia. Passe a limpo e entregue pra Solanja.

Eliz - Tá ok! Deixa eu dar uma lida aqui nesse garrancho.... Ei! Gente, olha isso aqui, Shirley escreveu “aumento normal” com “O”. Ficou “omento” normal! (risos)

Seane: Não, Não! Ela não quis dizer “aumento”, ela quis dizer “Helminto” !!!! (risos)

Isabela: Não, gente! Ela quis dizer “eu minto”, ou seja, ela mente normalmente! (risos)

Kalena: Ei, turma!! Não vamos dispersar....OLHA A PULGA, ISABELA!!!
Texto feito por Kalena
(PS.: O omento realmente existe, mas a dúvida também: era aumento normal ou omento normal?)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Fuga

Eu simplesmente não aprecio os meus textos feitos em momentos em que não me sinto bem, mas eu vou tentar mudar isso agora!
Não vou escrever nenhuma historinha sem graça hoje, pra variar mesmo!
Lembrei de coisas que gostaria de falar aqui, mas que ainda não estavam devidamente encaminhadas...
Eu vou começar pela segunda coisa, a qual se manifesta agora "in my mind"
Razão X Emoção é um duelo clássico da história da humanidade. É extremamente comum escutarmos: "Ela se deixou levar pela emoção!" ou "Desculpe, agi sem pensar!".
Eu mesma costumava utilizar incessantemente esta última frase, até que um professor me explicou que isso não ocorria. Em primeiro lugar: Tente parar de pensar! É meio difícil não?
Em segundo lugar: se uma pessoa age sem pensar, deduz-se que ela, no mínimo, estava com as emoções a flor da pele, certo? Porém, como alguns autores frisam, ninguém é exclusivamente racional, nem, tão pouco, age apenas pela emoção...
É uma ótima lição de retórica para se aprender na universidade. Mas, duvido se Perelman ou Américo falariam a mesma coisa depois de cometerem uma atitude burra e sem-pra-quê.
A primeira coisa que eu pensava em escrever...
Bem, essa eu vou deixar pra depois, ela merece uma ser postulada adequadamente!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Perdeu-se na mente...

- Mas, eu não posso! Ninguém pode parir assim! Você sabe o que é parir? Então, é impossível! Meu Deus, eu perdi meu filho em algum lugar e o que você me pede? É impossível parir um filho igual ao outro, ainda mais assim: como se fosse de uma hora pra outra.

- Francamente, você sabe do que eu estou falando.

- Sei, e repito. Não posso fazê-lo de novo.

- Então faça outro! Espero um já encaminhado em pelo menos dez minutos. - disse e saiu embalado pelo ruído dos seus sapatos italianos em atrito com o lustroso piso de madeira.

A moça despencou na cadeira em frente a sua escrivaninha, empunhou a caneta e franziu a testa. Dez minutos após ainda pensava no filho perdido.

E o seu papel continuava em branco.
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