quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Onde fica a história dos motoristas intransigentes?

Desci do ônibus com meu cunhado e fui andando no meio fio, esperando pelo momento de atravessar. Passou um carro e talvez dois, mas eu e Arthur continuávamos conversando distraidamente no meio fio. Percebi que um ônibus iria passar na rua e resolvi esperar no mesmo lugar. Qual não foi a minha surpresa quando o ônibus veio diretamente na minha direção. Esperei um pouco para ver se ele desviaria: nem sinal de desvio. Parei de pensar e recuei para o outro lado da pista, bem a tempo do ônibus passar, sacudindo os meus cabelos com a proximidade.

“Porra – resmunguei – isso aqui não era pra ser o meio fio?”, perguntei ao meu cunhado. O “meio fio” a que me referia era apenas duas listras amarelas paralelas pintadas no chão e pontuadas aqui e ali por algumas pedras (?) também amarelas e florescentes. “Fosse o que fosse, era pra ser o meio fio”, pensei.

Foi aí que meu cunhado me fez uma confissão. Ele disse que isso é que era o “foda” da História. Não entendi. “Se, no futuro, eu pegasse um documento que falasse sobre o trânsito dessa época, lá poderia estar registrado que os carros não podiam invadir o meio fio, mas na prática eu não saberia o que aconteceu. Eu nunca saberia que, em uma terça à noite, um ônibus invadiu o meio fio e quase atropelou uma pessoa”, explicou.

Desde então, a informação começou a incomodar os meus neurônios, como se fosse uma coceirinha e se torna uma grande coceira. O que Arthur tinha dito era uma verdade incontestável. Ou quase. Afinal, o que é um documento? Pra mim, que não sou perita nisso, um documento pode ser praticamente qualquer coisa que fale, descreva ou registre alguma coisa. Com esta idéia, recorri ao computador e mais que rapidamente redigi esse pequeno texto para não ficar fora da história.

Quem sabe daqui a alguns anos, pesquisando nos lixões eletrônicos do século XXI, encontrem o meu humilde blog e este depoimento venha à luz. Então as pessoas saberão coisas realmente relevantes do nosso tempo: o dia-a-dia fora dos Diários Oficiais e a rotina desprezada enquanto acontecimento.

3 comentários:

Carolina disse...

a história dos motoristas intransigentes será o livro número dois da trilogia "memórias do trânsito". O primeiro livro vai falar dos guardas de trânsito que não fazem com que os carros parem quando só tem uma pessoa pra atravessar a rua.Ah, detalhe: os livros serão fruto da união literária de dois grandes busólogos: Clis e Secoelho.
Nunca vi gente pra gostar tanto desse assunto...

Anônimo disse...

Tive outro insight agora. A facticidade da condição humana =O
Se tu achar o significado dessa palavra tu vai fazer outro post bacana XD

Camila Chaves disse...

huahuahuahuahua meu deus!

no início, meu riso era de nervoso, afinal, se tu tivesses continuado lá, pensando, não teríamos esse texto tão bem escrito pelas bandas daqui.

um documento, diga-se de passagem, que será de grande relevância aqueles que vasculharem os lixões eletrônicos deste século que, por enquanto, ainda é presente.

huahauhauhauuahuahuhau adorei muito isso. "plis", não deixa mais esse blog aqui tanto tempo assim sem idéias, não. "plis", de novo. =)~

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