terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Filosofia Culinária

Rooooonc. Seu estômago roncou tão alto que quase abafou a frase do professor. Na verdade, todas aquelas palavras já não faziam tanto sentido...

Forçou-se a prestar atenção na aula, mas como por birra, seu cérebro desviou rapidamente o pensamento para um restaurante qualquer, sem que o dono do corpo sequer notasse. Márcio conseguiu voltar a si, bem a tempo da próxima frase do mestre:

Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência – disse confiante o homem, enquanto levantava os óculos que já escorregavam para a metade do nariz. Encarou a turma, entusiasmado e provocativo, como se esperasse uma tempestade de questionamentos em plena uma hora do sábado.

Márcio não fez tão pouco do professor quanto a maioria da sala, que se distraia a qualquer ruído de folha de papel caindo no chão. Mesmo porque seu estômago não parava de protestar. Não sabia do que o professor estava falando, mas não era de comida! Isso não era.
Que outra explicação haveria para uma frase como aquela? Isso é bem filosofia, pensou. Ficou ensimesmado, pensando que os filósofos só poderiam ser loucos, ou então se faziam. Era só começar pelo arroz, para perceber que aquilo não estava muito certo.

Ora, ora. Que experiência poderia ter levado ao conhecimento daquela receita de arroz Maria Isabel, que ele tanto amava? Com certeza não havia sido nenhuma experiência sensível. Era só imaginar o homem pré-histórico, ou sabe se lá quando descobriram o arroz. A questão é que, de longe, o arroz cru era muito sem graça. E, para falar a verdade, de perto também.

Imaginou um homem entrando num terreno alagado e se deparando com aquelas plantinhas franzinas. Ele ia passar direto até que, curioso, resolveu mexer em uns pontinhos amarelos que pareciam conchinhas. Pegou uma e apertou na mão e, para sua surpresa surgiu um pequeno grão, meio amarelo meio esbranquiçado. Levou à boca sem muito animo, era mais pra sentir do que realmente a crença de que aquilo pudesse algum dia servir de alimentação.

Mordeu devagar e depois um pouco mais forte. O grão se partiu em dois e ficou dançando pela boca. Um escorregou logo pela faringe, mas o outro achou de encontrar um buraco em um dente cariado e ali se instalar, sem o menor jeito. Foi uma explosão de dor e uma experiência traumática...

O barulho das cadeiras arrastando fez Márcio despertar. O professor encerrara a aula e muitos alunos já estavam atravessando a porta. Olhou o professor arrumando sua bolsa para sair também e se perguntou se valeria à pena argumentar. Achou que não. Na hora do almoço ele entende.

5 comentários:

Rômulo Pacheco disse...

Sê, tem um meme pra você no meu blog! Olha lá! beijos =*

Raimundo disse...

já passei por esse pensamento nas minhas aulas de .. anh.. nutrição. :P
imagine quantas pessoas morreram pra descobrir que no baiacu tem uma parte venenosa que precisa ser tirada antes de comer.
sad, né?

Camila Chaves disse...

hahahaha cara, essa história toda de estômago roncar... me lembro das aulas de inglês que tomaram bom tempo de minha infância, pré-adolescencia e adolescência propriamente dita...

era chegada a hora do "listening". desligava-se o ar condicionado e aquela salinha pequenina e de paredes tão esbranquiçadas tal como a cor da fome...

(bom, acho que muita gente pensa que a cor da fome é a preta, ou quem sabe até azul. mas, pensei agora e acho que é branca, mesmo. a gente fica pálido quando está com fome. mas enfim... rs.)

...heheim. aí, aquele silêncio absurdo, até as respirações eram ouvidas ou mesmo os pedidos em pensamento de "por favor, estômoga. não ronca. não agora. por favor". o de alana roncou! pense num eco! huahuahuahua fooome! =)~

Alessandra Castro disse...

Educar a foma naum é mesmo uma tarefa fácil.

Mariana Reis disse...

Oiii, visite meu blog : www.meumundomeublog.blogspot.com e meu site www.universomoderno.blogspot.com .

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